Revista Eletrônica de Direito do Centro Universitário Newton Paiva

GUSTAVO FERREIRA RIBEIRO | RAFAEL CAPUTO BASTOS SERRA

RESUMO: O instituto da proteção diplomática se relaciona à defesa, pelos Estados, dos interesses dos particulares lesados na esfera internacional perante a jurisdição competente. No caso de comércio internacional, é utilizado pelos Estados para resolver conflitos de comércio, como aqueles na Organização Mundial do Comércio. Mundo afora, esses sistemas vêm passando por alterações. No Brasil, em 2019, ocorreu relevante modificação com o mecanismo denominado “Sem Barreiras”, que trouxe avanços nas fases iniciais de identificação de problemas comerciais do setor privado e na formação do cálculo do interesse do Estado para o exercício da proteção diplomática. Com base no método de abordagem comparativo e, em termos procedimentais, de pesquisa bibliográfica e documental, este artigo apresenta a experiência estrangeira, como a estadunidense e europeia, e, na sequência, o caso brasileiro. Como resultado das comparações efetuadas, demonstra-se, o quadro mais crítico, principalmente nos anos 2000, no Brasil. No novo modelo brasileiro, porém, houve avanços em termos de transparência na interlocução privado-público na fase de identificação dos pleitos. A decisão final do exercício da proteção, contudo, é mantida nos níveis governamentais, prática comparada que se observa em outros países.

Palavras-chave: barreiras comerciais; conflitos internacionais; organização mundial do comércio; proteção diplomática; sem barreiras.

TEXTO COMPLETO EM PDF

REFERÊNCIAS

ARBIX, Daniel. Contenciosos brasileiros na Organização Mundial do Comércio: pauta comercial, política e instituições. Contexto Internacional, v. 30, n. 3, p. 655-699, dez. 2008.

ARSLANIAN, Regis P. O Recurso à Seção 301 da Legislação de Comércio Norte-Americana e a Aplicação de seus Dispositivos contra o Brasil. Brasília: Instituto Rio Branco, 1994.

BARRAL, Welber. Solução de controvérsias na OMC. In: KLOR et al. Solução de Controvérsias: OMC, União Europeia e Mercosul. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2004.

BRASIL. Decreto nº 10.044, de 4 de outubro de 2019. Dispõe sobre a Câmara de Comércio Exterior. Diário Oficial da União, Brasília, 7 out. 2019. Seção 1, p. 1-3.

BRASIL. Decreto n. 10.098, de 6 de novembro de 2019. Dispõe sobre o Sistema Eletrônico de Monitoramento de Barreiras às Exportações – SEM Barreiras e institui o Comitê Gestor do SEM Barreiras. Diário Oficial da União, Brasília, 7 nov. 2019. Seção 1, página 13.

BRASIL, SEM Barreiras. Perguntas frequentes. Disponível em: <http://sembarreiras.gov.br/faq/> Acesso em: 19 ago. 2020.

BRASIL, Ministério de Relações Exteriores. SEM Barreiras: Sistema Eletrônico de Monitoramento de Barreiras Comerciais. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/diplomacia-economica-comercial-e-financeira/17818-sistema-eletronico-de-monitoramento-de-barreiras-comerciais> Acesso em: 19 ago. 2020.

BRONCKERS, Marco; MCNELIS, Natalie. The EU Trade Barrier Regulation comes of age. Journal of World Trade, v. 35, n. 4, p. 57-99, 2001.

BUENO et al. As origens históricas da diplomacia e a evolução do conceito de proteção diplomática dos nacionais. Anuario Mexicano de Derecho Internacional, v. XVII, 2017.

CASTELAN, Daniel; SANTOS, Leandro Wolpert dos. O Brasil no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC: soft balancing? Revista Carta Internacional, v. 13, n. 3, p. 59-82, set./dez. 2018.

CHARNOVITZ, mavrSteve. Should the teeth be pulled? An analysis of WTO sanctions. In: KENNEDY, Daniel; SOUTHWICK, James (Org.). The Political Economy of International Trade Law: Essays in Honor of Robert E. Hudec. Cambridge: CUP, 2002, p.621-622.

CROWELL & MORING LLP. Interim Evaluation of the European Union’s Trade Barrier Regulation (TBR), 2005. Disponível em: https://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2005/october/tradoc_125451.pdf Acesso em: 02 set. 2020.

DAVIS, Christina L.; SHIRATO, Yuki. Firms, Governments, and WTO Adjudication: Japan’s Selection of WTO Disputes. World Politics. v. 59, n. 2, p. 274–313, jan. 2007.

ELIASSON, Johan; SHERMAN, Richard. Trade disputes and non-state actors: new institutional arrangements and the privatization of Commercial Diplomacy. World Economy, v.29, n. 4, p.473-489, mar. 2006.

FERNANDES, Ivan Filipe. Interesses organizados na política comercial brasileira: da era CACEX às negociações internacionais. Leviathan, n. 2, p.1-35, maio 2011.

GARCIA-CASTRILLON, Carmen Otero. El instrumento de defensa comercial comunitario tras la conclusion de los acuerdos de la Ronda Uruguay. Revista de Instituciones Europeas, v.23, n. 2, p. 455-486, maio/ago. 1996.

LAIDHOLD, Michael. Private party access to the WTO: do recent developments in international trade dispute resolution really give private organizations a voice in the WTO? Global Business & Development Law Journal, v. 12, n. 2, p. 427-450, 1999.

LEIRER, Wolfgang W. Retaliatory action in United States and European Union: a comparison of Section 301 of the Trade Act of 1974 and Council Regulation 2641/84. North Carolina Journal of International Law & Commercial Regulation, v. 20, n. 1, p. 41-96, 1996.

MAVROIDIS, Petros; ZDOUC, Werner. Legal means to protect private parties’ interests in the WTO: the case of the EC new Trade Barrier Regulation. Journal of International Economic Law, v. 1, n. 3, p.407-432, set. 1998.

MESQUITA, Paulo Estivallet de. A Organização Mundial do Comércio. Brasília: FUNAG, 2013.

MESQUITA, Paulo Estivallet de. O papel central do setor privado na atuação do Brasil no Sistema de Solução de Controvérsias da OMC. In: Daniela Arruda Benjamin (org.). O Sistema de Solução de Controvérsias da OMC: uma perspectiva brasileira. Brasília: FUNAG, 2013.

MORAES, Henrique Choer. A atuação internacional do Estado em benefício de interesses privados: uma análise jurídica da formação da “micropolítica” externa. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 45, n. 2, p.114-134, dez. 2002.

PEREIRA, Lia Baker Valls. A volta da Camex. Revista Conjuntura Econômica, v.70, n.10, p.64-65, out. 2016.

PRAZERES, Tatiana. Comércio Internacional e Protecionismo: as Barreiras Técnicas na OMC. São Paulo: Aduaneiras, 2003.

VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. VEIGA, Pedro da Motta;

IGLESIAS, Roberto Magno. A institucionalidade da política brasileira de comércio exterior. In: MARKWALD, R. et al (org.). O desafio das exportações. Rio de Janeiro: BNDES, 2002. p. 50-96.

WALSH, Thomas W. Dispute Settlement at the World Trade Organization: do municipal laws promoting private party identification of trade disputes affect state participation? Journal of World Trade, v. 40, n. 5, p. 889-908, out. 2006.