INC04 12 Habilidades sociais e personalidade: aspectos correlacionais que influenciam no comportamento de risco social dos adolescentes

Maria Betânia Bayão Leão Cangussú[i]

Mônica Freitas Ferreira[ii]

 

RESUMO: O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica. A busca restringiu-se aos artigos que referiam ao comportamento de risco na adolescência, personalidade e habilidades sociais, com o objetivo de investigar a relação entre as variáveis de habilidade social e os fatores de personalidade para compreender de que forma estes influenciam nos comportamentos de risco social na adolescência. Determinados traços de personalidade podem facilitar ou não determinadas formas de expressões sociais, podendo ser de alta ou baixa probabilidade o envolvimento de adolescentes em fator de risco social.

PALAVRAS-CHAVE: Personalidade; Habilidade Social; Fator de Risco.

 

ABSTRACT: This study consists of a literature search. The search was restricted to articles that referred to the risk behavior in adolescence, personality and social skills, in order to investigate the relationship between social skill variables and personality factors to understand how they influence social risk behaviors in adolescence. Certain personality traits may facilitate or not certain forms of social expression, there can be high or low probability of involvement of adolescents in social risk factors.

KEYWORDS: Personality; Social skill; Risk factor.

INTRODUÇÃO

O agravamento dos problemas familiares, de saúde, e sociais que atingem os adolescentes desperta o interesse em diversos profissionais tais como os psicólogos, os professores e os médicos a fim de investigar os comportamentos dos jovens em sociedade. Nesse sentido, tais comportamentos podem ser considerados enquanto resultado de influencias de fatores de risco. (GALLO & WILLIANS 2005)

Segundo Gallo e Willians (2005) fatores de risco são condições que podem ser associados à alta probabilidade de ocorrência de resultados indesejados ao desenvolvimento humano. Dentre estes comportamentos influenciados pelo fator de risco pode ressaltar, o uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, negligência familiar, exposição ao vexame, seja intra-familiar ou não, violência física, psicológica e/ou sexual, má alimentação, solidão, insônia, doenças mentais, gravidez indesejada, exposição à DST’s. Comportamentos estes que podem comprometer a saúde, o bem-estar e desempenho social dos adolescentes. (GALLO E WILLIANS, 2005)

Com a finalidade de compreender esses comportamentos torna-se viável investigar as variáveis das habilidades sociais bem como os fatores de personalidade. Segundo Dell Prette (2013) as habilidades sociais são aprendidas/adquiridas de maneira não sistemática, inicialmente por meio da família      , depois por outros subsistemas. Para Pervin e John (2004), a personalidade é entendida como um sistema no qual as tendências inatas da pessoa interagem com o meio social, produzindo ações e experiências novas. De acordo com Bueno, Oliveira e Oliveira (2001) as habilidades sociais e os traços de personalidade se influenciam mutuamente, ou seja, determinados traços de personalidade podem facilitar ou não determinadas formas de expressões sociais, podendo ser de alta ou baixa probabilidade o envolvimento de adolescentes em fator de risco social.

ABORDAGEM FATORIAL DA PERSONALIDADE

               Segundo Ferreira (2013), o termo personalidade está ligado às características individuais das pessoas pensarem, sentirem e se comportarem. Os fatores de personalidade podem ser avaliados, segundo Andrade (2008), como a impressão que causa aos outros, produzindo reações positivas ou negativas. Por exemplo, as pessoas podem ser reconhecidas por apresentar uma “personalidade agressiva”, uma “personalidade submissa” ou uma “personalidade temerosa”.

Para Pervin e John (2004), os traços de personalidade assumem três funções importantes que são: resumir, prever e explicar o comportamento de uma pessoa. A personalidade é entendida como um sistema no qual as tendências inatas da pessoa interagem com o meio social, produzindo ações e experiências novas. Apesar da maioria das teorias da personalidade considerar os traços da personalidade como o resultado das experiências de vida, a teoria dos cinco grandes fatores, aponta que estes traços são estruturalmente isolados das influências do ambiente (MCCRAE, 2006).

Os cinco grandes fatores têm sido aceitos como um modelo compreensivo dos traços de personalidade, possuindo base para uma representação adequada da estrutura da personalidade (PERVIN & JONH, 2004). O CGF possibilita a compreensão da personalidade por meio da exploração sistemática de um conjunto de traços significativos e fornecendo amplitude destes, por meio de facetas (COSTA & MCCRAE, 2007). O CGF é a descrição mais simples, elegante e econômica, além de ser o mais aceito pela sua grande universalidade e aplicabilidade em diferentes contextos.

De acordo com Nunes (2010), o modelo CGF pode ser aplicado em diferentes línguas e sociedades, ou seja, o modelo do CGF não carrega influências externas, ou mesmo do ambiente, são características inatas. Se um traço de personalidade produz comportamentos importantes para a comunidade, a população irá falar sobre essas características e consequentemente criaram palavras para descrevê-las. As pessoas descrevem o indivíduo com que vão interagir como:

  1. Ativo e dominante, ou passivo e submisso;
  2. Socialmente agradável ou desagradável, frio;
  3. Responsável ou negligente;
  4. Louco imprevisível ou, estável;
  5. Aberto a novas experiências ou desinteressado por tudo aquilo que não diz respeito à experiência do cotidiano.

Ainda de acordo com Nunes (2010) segue a definição dos Cinco Grandes Fatores:

  1. Extroversão: está relacionado às formas como as pessoas interagem com os demais e o que indica o quanto elas são comunicativas, ativas e assertivas;
  2. Socialização: descreve a qualidade das relações interpessoais dos indivíduos. As de alto nível tendem a ser generosas, bondosas, prestativas, empáticas e pensam que a maioria das pessoas agirá como elas;
  3. Neuroticismo: é o mais associado às características emocionais das pessoas. Refere-se ao nível crônico de ajustamento e instabilidade emocional dos indivíduos. Um nível alto apresenta indivíduos que são propensos a vivenciar mais intensamente sofrimento emocional. Já o baixo nível, caracteriza se por indivíduos geralmente calmos, relaxados e estáveis;
  4. Realização: descrevem características como o grau de organização, persistência e controle. Pessoas com alto índice tendem a ser confiáveis, trabalhadoras, decididas, pontuais e perseverantes. As de baixo nível costumam não ter objetivos claros, e ser vistas como preguiçosas;
  5. Abertura: se refere aos comportamentos exploratórios e ao reconhecimento da importância de ter novas experiências. Indivíduos com alto índice são curiosos, imaginativos, criativos, divertem-se com novas ideias e possuem valores não convencionais.

MODELO DAS HABILIDADES SOCIAIS

 Segundo Del Prette (2013), para desenvolver relacionamentos bem-sucedidos as crianças e adolescentes precisam adquirir habilidades sociais. As habilidades sociais constituem uma classe específica de comportamentos que um indivíduo emite para completar com sucesso uma tarefa social.

Ainda de acordo com Del Prette (2013), tarefa social se constitui em, por exemplo: entrar em grupo de colegas, iniciar e manter conversação, fazer amigos etc. Já a Competência Social é um termo avaliativo baseado em julgamentos, se o indivíduo desempenhou adequadamente a tarefa social. Essa competência pode ser um tipo particular do desempenho social, que é um termo que se aplica a qualquer comportamento que ocorre em uma interação social. Ainda de acordo com Del Prette (2013) as habilidades sociais são designações dadas a classes de comportamentos interpessoais.

Segundo Colem (2003) a aprendizagem e a elaboração das habilidades sociais ao longo do desenvolvimento humano constituem indicadores importantes para a saúde psicológica. Muitos problemas psicológicos e sociais (como maternidade e paternidade precoces, evasão escolar, drogadição, timidez e outros) apresentam como fator de risco, um conjunto de déficits em habilidades sociais que comprometem o funcionamento mais adaptativo. (BARR & PARRET, 2001; NIGHTINGALE & FISCHOFF, 2002). Indo contra há um resultado satisfatório das habilidades sociais que é reconhecido como protetor desses fatores de risco. Considerando um nível de habilidades sociais alto, podem servir de forma a prevenção e promoção de problemas interpessoais. (BARR & PARRET, 2001; NIGHTINGALE & FISCHOFF, 2002).

Conforme Dell Prette (2014, p. 3), pode- se conceituar:

As Habilidades Sociais são as classes de comportamentos sociais existentes no repertório do individuo que são requeridas para um desempenho socialmente competente. Como exemplos: manter contato visual, apresentar se a alguém, expor um problema com clareza, expressar um sentimento. Muitas vezes, uma pessoa que possui habilidades em seu repertório (ou seja, tem a capacidade de comportar se de determinada maneira), mas não as utiliza por diversas razões, entre as quais a ansiedade, crenças errôneas, dificuldade de discriminar os estímulos sociais do ambiente e etc. Por isso se entende que habilidades sociais como um constructo descritivo que não se confunde com competência social.

De acordo com Del Prette e Del Prette (2001), são divididas nas seguintes variáveis:

  1. HS de comunicação: fazer e responder a perguntas, gratificar/elogiar, iniciar e manter conversação;
  2. HS de civilidade: dizer por favor, agradecer, apresentar-se, cumprimentar, despedir-se;
  3. HS assertivas, direito e cidadania: manifestar opinião, concordar, discordar, fazer, aceitar e recusar pedidos, desculpar-se, admitir falhas, interagir com autoridade, estabelecer relacionamento afetivo e/ou sexual, encerrar relacionamentos, expressar raiva/desagrado, pedir mudança de comportamento e lidar com críticas;
  4. HS empáticas: parafrasear, refletir sentimentos, expressar apoio;
  5. HS de trabalho: coordenar grupo, falar em público, resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos, habilidades sociais educativas;
  6. HS de expressão de sentimento positivo: fazer amizade, expressar solidariedade, cultivar o amor.

De acordo com Del Prette (2013), os adolescentes pouco aceitos por colegas, com poucas amizades ou pobre ajustamento escolar encontram se em situação de risco ainda maior para desfechos não adaptativos ao longo da vida.

  

FATOR DE RISCO SOCIAL

 Segundo Zanirato (2008) entende-se que a sociedade pós-industrial é uma sociedade de riscos, principalmente pelos efeitos que o mundo globalizado produziu, no qual as ações individuais podem ter efeito sobre a sociedade e a sociedade pode influenciar as ações individuais. Giddens (1997) citado por Zanirato (2008), define sociedade de riscos como sociedade que além de introduzir novos tipos de riscos para a humanidade, também introduz novas relações entre sistemas de conhecimentos. Apesar de seus riscos se distribuírem em todas as direções e não respeitarem as fronteiras dos estados, ainda que afetem de modo distinto as classes sociais, compreende-se que a situação de risco é mais exposta em baixo nível socioeconômico.

Beck (1999) citado por Zanirato, afirma que, os riscos parecem fortalecer a sociedade de classes, pois as classes mais altas, de mais poder, possuem mais recursos para tentar evitar os riscos mediante a escolha de um lugar onde morar, assim como, meios de obter mais rapidamente a informação. Já as classes populares, com baixo nível socioeconômico, têm menos possibilidades de escolhas e sujeitam-se a morar perto das zonas de perigo, com isso, ficam mais expostas a influencia do risco social. Além disso, são justamente essas classes que têm maiores dificuldades de acesso à informação. Além dessa variável de fator de risco, também são de grande valia a influência da dinâmica familiar, os fatores biológicos favoráveis ou não ao desenvolvimento humano.

Rosane Janczura (2012) afirma que a visão do adolescente como oportunidade e a definição de bases de apoio formais (escolas, clubes, programas religiosos) e informais (redes de amizade e solidariedade, relações afetivas significativas na vida dos adolescentes), bem como os recursos familiares e comunitários, são os elementos fundamentais para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. (RIZZINI, BARKER; CASSANIGA, 2000). Ainda segundo Zanirato (2008), os riscos estão associados com algumas variáveis, por um lado, com situações próprias do ciclo de vida das pessoas e, por outro, com condições das famílias, da comunidade e do ambiente em que as pessoas se desenvolvem.

RESULTADOS

De acordo com Bueno Oliveira e Oliveira (2001) supõe-se que tais habilidades sociais e personalidade se influenciam mutuamente, logo específicos traços de personalidade podem facilitar ou dificultar determinadas formas de expressão social.

Não foi encontrado nenhum estudo brasileiro que correlacione as habilidades sociais, personalidade e fator de risco social, na busca foi encontrada estudos como o de Bueno de Oliveira e Oliveira.

A partir de estudos de Bueno de Oliveira e Oliveira (2001) apresento correlação de componentes das habilidades sociais e traços de personalidade. O estudo foi investigado com dois instrumentos: o inventário de Habilidades Sociais- IHS e a Bateria Fatorial de Personalidade –BFP. Observa correlações significativas entre variáveis de habilidade sociais: (F1) enfrentamento com risco, (F2) auto-afirmação na expressão de afetos positivos e (F3) conversação, e desenvoltura social apresentam correlações significativas com todos os traços de personalidade. Já a (F4) auto-exposição a desconhecidos ou a situações novas, correlacion apenas com (A) extroversão e (C) neuroticismo. O (F5) auto-controle da agressividade a situações aversivas correlacionou-se com (B) socialização e (C) neuroticismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Praticamente todas as teorias do desenvolvimento abordam a questão da socialização e da importância das interações e relações sociais enquanto fatores de saúde mental e de desenvolvimento (DEL PRETTE, 2012).

A noção de risco social implica não somente iminência imediata de um perigo, mas também a possibilidade de, num futuro próximo, ocorrer uma perda de qualidade de vida pela ausência de ação preventiva. A ação preventiva está relacionada com o risco, pois não se trata de só minorar o risco imediatamente, mas de criar prevenções para que se reduza significativamente o risco, ou que ele deixe de existir. (ZANIRATO 2008).

Contudo no estudo bibliográfico, foi possível levantar correlações entre os fatores de personalidade e habilidade social. No entanto, não foi identificado estudos que correlacionam de forma direta as duas variáveis a acima com os fatores de risco. Com isso, reforça a hipótese de que mais estudos voltados para essa temática precisam ser desenvolvidos, a fim de identificar possível predição para o risco social na adolescência.

 

REFERÊNCIAS

 BUENO, J. M. H.; OLIVEIRA, S. M. S. S. & OLIVEIRA, J. C. S. Um estudo correlacional entre as habilidades sociais e traços de personalidade. Itatiba – São Paulo. Revista Psico-USF, vol. 6, nº 1, pág. 31-38. 2001.

DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes (IHSA-Del-Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.

FERREIRA, F. Relação entre traços de personalidade, percepção de justiça distributiva, satisfação e comportamentos contraproducentes no trabalho. Dissertação de mestrado – Belo Horizonte, 2013.

GALLO, A. E. & WILLIAMS, L. C. A. Adolescente em conflitos com a lei: uma revisão dos fatores de risco para conduta infracional. Revista Psicologia: teoria e prática. Vol. 7, Nº 1. 2005.

GRANDIZOLI, J. C. O. Enfrentamento da negligência intrafamiliar contra criança e adolescente. ETIC – Encontro Toledo de Iniciação Cientifica. 2014

OMS, Organização Mundial da Saúde. Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. USP. Disponível em:< http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html> Acesso em: 12 Jun 2015.

MALTA, D. C. & Colaboradores. Uso de substâncias psicoativas, contexto familiar e saúde mental em adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares (PeNSE 2012). Revista Brasileira de Epidemiol SUPPL PeNSE. 2014. p. 46-61.

MCCRAE, R. R. O que é personalidade? In Flores-Mendoza, C. e Colom, R. & colaboradores. Introdução à Psicologia das diferenças individuais. Porto Alegre: Artmed. 2006.

NUNES, C. H. S. S., HUTZ, C. S. & NUNES, M. F. O. Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)– Manual técnico. Itatiba, SP: Casa do Psicólogo. 2010.

NOTAS DE FIM

[i] Graduanda em Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: mariabetania_cangussu@hotmail.com

[ii] Professora do curso de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Email: monica.freitas.ferreira@gmail.com