Israela Sâmia Mendes TERRINHA[i]
Lidiane Rodrigues de SOUZA[ii]
Priscila Thaís Rodrigues de ABREU[iii]
Camilla Aparecida Silva de OLIVEIRA[iv]
Fernando SARTORI[v]
Keli Bahia Felicíssimo ZOCRATTO[vi]
RESUMO: O objetivo do presente estudo foi descrever o conhecimento que as puérperas alojadas na Maternidade do Hospital Odilon Behrens apresentam em relação aos cuidados com a saúde bucal do bebê. Realizou-se um estudo de caráter descritivo e desenho transversal no Alojamento Mamãe- Bebê (Maternidade) do Hospital Municipal Odilon Behrens, no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano de 2013. A amostra foi composta por 471 puérperas que estavam internadas no alojamento mamãe-bebê durante o período de agosto a novembro de 2013. As entrevistas foram conduzidas com auxílio de um questionário semi-estruturado; em seguida realizou-se análise descritiva dos dados, utilizando-se o programa estatístico Epi info. Dentre os resultados obtidos verificou-se que das entrevistadas, 312 (66,2%) acreditam que a cárie é uma doença, 143 (30,4%) acreditam não se tratar de uma doença. Caso viessem amamentar seu filho via mamadeira, 285 (60,5%) acrescentariam algo ao leite. Destas, 246 (86,6%) acrescentariam suplementos. O alerta sobre a presença do açúcar em suplementos alimentares, como mucilagens e achocolatados deve ser enfatizado, visto que uma parcela significativa das mães pretendia incluí-los na alimentação dos seus filhos. O desconhecimento de tal fato pode contribuir para o desenvolvimento da cárie precoce nesses bebês.
Palavras-chave: Saúde bucal; Recém-nascido; Conhecimento; Odontopediatria.
ABSTRACT: The aim of this study was reported the knowledge that the mothers housed in the Maternity Hospital Odilon Behrens present in relation to oral health care of the baby. The descriptive study and cross-sectional design was developed in Maternity Hospital Municipal Odilon Behrens, Belo Horizonte, Minas Gerais, in 2013. The representative sample was composed of 471 puerperal mothers hospitalized in the housing mommy- baby during the period august-november 2013. Interviews were conducted with the aid of a semi – structured questionnaire and the data were tabulated in a database. Descriptive data analysis was realized using the statistical program Epi info. Among the results it was found that the respondents, 312 (66.2 %) believe that caries is a disease, 143 (30.4 %) believe that the decay is not a disease. Should they breastfeed her child with milk using bottle, 285 (60.5 %) said they would add something in the milk. Of those interviewed, 246 (86.6 %) said they would add supplements. The warning about the presence of sugar in food supplements as mucilage and chocolate should be emphasized, since a significant proportion of mothers wanted to include them in feeding their children. No knowledge of this fact may contribute to development of early childhood caries in these infants.
Key-words: Oral Health; Newborn; Knowledge; Pediatric Dentistry
INTRODUÇÃO
O conhecimento das mães quanto aos cuidados com os bebês durante os primeiros anos de vida é de extrema importância, pois quando a mãe tem capacidade de adotar ações positivas para educar o seu filho, há uma grande chance da criança adquirir hábitos saudáveis que repercutirão por toda sua vida (HANNA et al., 2007). O conhecimento materno prévio sobre hábitos adequados reflete em atitudes saudáveis em relação à saúde bucal dos seus filhos (KUHN, 2002). Dentre esses conhecimentos, destaca-se a correta higienização da cavidade oral do bebê, fato que pode colaborar com a prevenção de doenças, principalmente a ocorrência de cárie (PINTO, 2008).
A cárie dentária é uma doença de caráter infeccioso e etiologia multifatorial, sendo um produto da associação de fatores determinantes como o hospedeiro, o substrato e os microorganismos (Streptococcus mutans). Trata-se de um complexo processo que se apresenta inclusive, com um caráter comportamental. A sacarose é, dentre os carboidratos fermentáveis, aquele que apresenta maior potencial cariogênico. Na presença deste substrato, forma-se uma placa bacteriana altamente acidogênica e acidúrica. A metabolização desta sacarose leva a formação de glucanos e frutanos. Os primeiros favorecem a adesão bacteriana às superfícies dentárias e os frutanos relacionam-se à reserva energética (LEITES, et.al., 2006). Ressalta-se que frutose e lactose também podem ser utilizadas como fontes energéticas no metabolismo dos microorganimos, gerando ácidos que levam à desmineralização dentária (DECKER e VAN LOVEREN, 2013).
As doenças que mais afetam os dentes e suas estruturas de suporte são a cárie e a doença periodontal. Uma vez que a placa bacteriana é fator primordial para o desenvolvimento destas enfermidades, destaca-se a importância do controle do biofilme dental para a prevenção de cárie, gengivite e periodontite. A remoção mecânica da placa realizada por meio de uma correta higienização oral com escova, fios/fitas dentais e dentifrícios constitui o meio mais eficaz de controle do biofilme supra e subgengival (PEDRAZZI et.al., 2009).
Oliveira et.al. (2010) evidenciaram a importância dos pais na prevenção da cárie e salientaram que o conhecimento apresentado pelas mães quanto à higiene oral dos seus filhos ainda é deficitário. Esse conhecimento pode ser adquirido a partir de um conjunto de ações, em âmbito individual ou coletivo, com a inclusão de atividades de prevenção e promoção de saúde bucal nos grupos de gestantes no nível da atenção básica em saúde, com a atuação de uma equipe multiprofissional (BRASIL, 2008). A abordagem e inclusão das gestantes neste processo são essenciais, uma vez que essas mulheres mostram-se interessadas em participar de palestras preventivo-educativas. Assim, além de assimilar hábitos saudáveis, estarão dispostas a executá-los e representarão um modelo de hábitos saudáveis, a partir do qual a criança formará suas atitudes e comportamentos (GARBIN et. al., 2011).
A promoção da saúde engloba atividades de educação em saúde e, ao ter as gestantes como público alvo, busca esclarecer as principais dúvidas destas e de seus familiares, destacando a importância do pré-natal, a necessidade de orientação higieno-dietética, a importância do aleitamento materno e os cuidados com o recém-nascido (BRASIL, 2000). Destaca-se também o valor do pré-natal odontológico, uma vez que durante a gravidez a mulher se mostra mais receptiva às informações e às mudanças de hábitos que culminarão em um bem para o seu bebê (BATISTELLA et. al., 2006). Desta forma, é preciso que já na primeira consulta do pré-natal a gestante seja referenciada para atendimento odontológico.
O objetivo do presente estudo foi descrever o conhecimento que as puérperas alojadas na Maternidade do Hospital Odilon Behrens apresentam em relação aos cuidados com a saúde bucal do bebê.
METODOLOGIA
O presente estudo de caráter descritivo e desenho transversal foi realizado no Alojamento Mamãe- Bebê (Maternidade) do Hospital Municipal Odilon Behrens, localizado no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano de 2013.
A população deste estudo foi composta por 471 mães, as quais se encontravam em estado puerpério e estavam internadas no alojamento mamãe- bebê durante o período da coleta (agosto a novembro de 2013). Todas as mães, maiores de 18 anos, que se encontravam em plenas condições psicológicas para participarem do estudo e sem nenhuma restrição da equipe médica foram convidadas a participar desta pesquisa. Tornando-se então, parte de uma amostra de conveniência. Foram excluídas desta amostra, mães de natimortos, puérperas que se encontravam debilitadas e sentiam-se indispostas no momento da coleta e mães com quadro psicológico caracterizado por depressão pós-parto. Ao aceitarem participar da pesquisa as mães receberam o termo de consentimento livre e esclarecido e foram submetidas a uma entrevista relacionada ao conhecimento sobre a saúde bucal do seu bebê.
As entrevistas foram realizadas nos leitos e foram conduzidas com auxílio de um questionário semi-estruturado. Esse instrumento elaborado com base nos estudos de Gunther, et. al. (2005) e Massoni et. al. (2009), abordou variáveis sociodemográficas (idade, escolaridade, estado civil, procedência, número de filhos, uso de drogas), características do parto (idade gestacional, tipo de parto), pré-natal (realização do pré-natal, informações obtidas sobre aleitamento materno e condutas durante a amamentação do lactente), conhecimento sobre a doença cárie (se considera a cárie uma doença transmissível e sua forma de transmissão) e sobre higienização e saúde bucal do bebê (forma de higienizar a cavidade oral do bebê, número de vezes que considera ideal para higienizar, época ideal para começar a utilizar escova de dentes e dentifrício, dentifrício ideal para o bebê, primeira consulta com o dentista, uso de chupeta e abandono da chupeta).
Para testar o instrumento de coleta de dados e realizar possíveis ajustes metodológicos realizou-se previamente, um estudo piloto. Em seguida, os dados obtidos foram tabulados em um banco de dados e a partir de então, foi realizada a análise descritiva dos dados através da distribuição de frequências. Utilizou-se o programa estatístico Epi info.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Newton Paiva, sob o número de registro 14819313.2.0000.5097.
RESULTADOS
Como resultado de adesão espontânea ao estudo, 471 puérperas alojadas no HOB aceitaram participar desta pesquisa. A idade dessas mulheres variou de 18 a 43 anos (26,6 ± 6,2 anos), sendo que 25% da amostra apresentou idade até os 21 anos, 50% até os 26 anos e 75% até os 31 anos. Destas, 291 (61,1%) moravam em Belo Horizonte, 155 (32,9%) moravam na região metropolitana de Belo Horizonte, 21 (4,5%) eram moradoras de cidades do interior de Minas Gerais e 4 (0,8%) residiam em outros estados. Nenhuma delas relatou ser moradora de rua. Quanto ao estado civil, 247 (52,4%) puérperas disseram morar com seu parceiro, relatando ser casadas, amigadas ou possuidoras de união estável, 214 (45,4%) relataram ser solteiras, 6 (1,3%) informaram ser divorciadas e 4 (0,8%) relataram ser viúvas. Com relação à escolaridade, a maioria das puérperas cursou o ensino médio, sendo que 198 (42,0%) o completaram e 118 (25,1%) disseram ter cursado, mas não o concluíram. Quanto ao uso de drogas, 398 (84,5%) não faziam uso de nenhum tipo de droga, 72 (15,3%) eram usuárias de drogas lícitas e 1 (0,2%) não declarou. A maioria das puérperas, 264 (56,0%) afirmou possuir outros filhos, enquanto 207 (44,0%) relataram ser o recém nascido, o seu primogênito.
Com relação à idade gestacional, observou-se 114 (24,2%) recém-nascidos pré-termos (antes da 38o semana de gestação), 349 (74,1%) recém-nascidos a termo (38o a 41o semanas de gestação) e 5 (4,7%) recém nascidos pós-termo (acima de 42o semanas de gestação) e 3 (0,6%) puérperas não souberam relatar a idade gestacional do seu bebê. A maioria das puérperas (58,6%), submeteu-se ao parto normal, 181 (31,4%) à cirurgia cesariana e 14 (3,0%) à cirurgia por meio do fórceps. Quando questionadas se haviam realizado o pré-natal, 455 (96,6%) relataram que haviam feito e 16 (3,4%) não o fizeram.
Duzentas e quarenta e duas (51,4%) puérperas relataram haver recebido informações sobre aleitamento materno ainda durante o pré-natal. Estas puérperas receberam informações pelas seguintes fontes: 123 (50,8%) pelo médico, 63 (26,0%) por enfermeiros, 44 (18,2%) pelas cartilhas do pré-natal, 13 (5,4%) por cursos, 12 (4,9%) pela mídia, 5 (2,1%) pelos agentes de saúde, 1 (0,4%) por estagiários de enfermagem e 3 (1,2%) por outros profissionais (fisioterapeutas, nutricionistas e voluntários).
Observou-se que 22 (9,0%) participantes receberam informações por mais de uma fonte. Quanto às informações recebidas, 200 (82,6%) puérperas obtiveram informações que abordavam exclusivamente temas relacionados à amamentação, dando ênfase à sua importância, ao tempo de duração, ao modo de amamentar, aos cuidados com a mama e ao banco de leite. Apenas 6 (2,5%) receberam informações que abordavam a importância do aleitamento materno para a saúde bucal do bebê, abordando temas como desenvolvimento orofacial e higienização bucal do recém-nascido. Uma delas (0,4%) recebeu informações que abordavam os dois temas e 34 (7,2%) não souberam informar quais informações receberam durante o pré-natal.
Das 471 puérperas entrevistadas, 468 (99,4%) pretendiam amamentar seus filhos no peito, as demais não pretendiam ou não sabiam. Caso viessem amamentar seus filhos com leite via mamadeira, 285 (60,5%) disseram que acrescentariam algo no leite para que a criança o aceitasse melhor. Destas entrevistadas, 246 (86,6%) disseram que acrescentariam suplementos, 21 (7,4%) achocolatados, 17 (6,0%) açúcar, 9 (3,2%) frutas, 2 (0,7%) iogurtes, 2 (0,7%) cereais e 8 (2,5%) não souberam responder o que acrescentariam.
Observou-se que 20 (7,0%) entrevistadas mencionaram mais de um alimento a ser acrescentado. As outras 175 (37,1%) puérperas não acrescentariam nenhum tipo de substância ao leite da mamadeira e 11 (2,5%) participantes relataram que não usariam mamadeira para amamentar seus filhos. Trezentos e oitenta e três (81,3%) não acreditavam que o leite materno pudesse causar a doença cárie, enquanto 68 (14,4%) relataram que o leite da mãe pode sim, causar a cárie. Apenas 20 (4,2%) não souberam responder a esta pergunta.
Das entrevistadas, 312 (66,2%) acreditam que a cárie é uma doença, 143 (30,4%) acreditam que a cárie não é uma doença, 16 (3,4%) disseram que não sabiam se era ou não uma doença. Dentre as entrevistadas que acreditam que a carie é uma doença, 193 (41,0%) participantes não acreditam que seja transmissível, 22 (4,5%) não souberam opinar e 97(20,6%) creem em sua transmissibilidade. Das que acreditam em sua transmissibilidade, 33 (34,0%) responderam que a doença pode ser transmitida pelo beijo, 11 (11,3%) por saliva, 52 (53,6%) por compartilhamento de objetos, 6 (6,2%) por soprar alimentos do bebê, 6 (6,2%) por outros meios (como o sangue e o ar) e 6 (6,2%) não souberam informar o meio de transmissão.
A maioria das participantes, 327 (69,4%), acredita que o uso de antibióticos pode causar cárie, 104 (22,1%) acreditam que não, 39 (8,3%) relataram ter dúvida quando a isto e 1 (0,2%) não respondeu à pergunta. Para 340 (72,1%) puérperas a cárie pode ser prevenida por meio da higienização bucal (escovação, uso de fio dental), 10 (2,1%) pelo controle da dieta, 4 (0,8%) por meio de consultas odontológicas, 41 (8,7%) por meio da higiene bucal e controle da dieta, 26 (5,5%) pela higiene bucal e consultas odontológicas, 2 (0,4%) pela higiene bucal, controle da dieta e consultas odontológicas e 48 (10,2%) relataram não saber os meios de prevenção (Tabela 1).
TABELA 1
Observou-se que 375 (79,6%) puérperas não receberam orientações sobre como cuidar da higiene bucal do filho que acabou de nascer, somente 96 (20,4%) tiveram acesso a este tipo de orientação (Tabela 2). Das mães que foram orientadas, 14 (3,0%) receberam orientações de dentistas, 12 (2,5%) por meio de enfermeiros, 5 (1,1%) por médicos, 6 (1,3%) por equipe multiprofissional, 9 (1,9%) por acadêmicos da área da saúde, 1 (0,2%) por técnicos de enfermagem, 19 (4,0%) pela mídia, 10 (2,1%) por meio de familiares, 8 (1,7%) por cursos durante a gestação, 4 (0,8%) por cartilhas, 3 (0,6%) no trabalho, 3 (0,6%) por familiares e profissionais da saúde e 2 (0,4%) não souberam dizer quem as orientou.
Quando arguidas sobre o momento em que acreditam que devem começar a higienização da boca do seu bebê, 290 (61,6%) responderam que deve ser antes do nascimento dos primeiros dentes, 116 (24,6%) disseram que deve ser no momento do nascimento dos primeiros dentes (6 meses a 1 ano), 8 (1,7%) disseram que deve ser quando todos ou a maioria dos dentes estiverem presentes no arco dentário ( 2 a 3 anos), 1 (0,2%) disse que deve ser quando seu filho sentir dor, 9 (1,9%) disseram não saber quando deve ser o início da higienização da boca do bebê e 47 (10,0%) deram respostas diferentes das opções do questionário. Quando argüidas sobre o modo de higienização da cavidade oral dos seus bebês, 271 (57,5%) responderam que deveriam utilizar apenas gaze ou fralda umedecida em água filtrada, 47 (10,0%) empregariam outros meios para limpar a boca dos seus bebês, tais como hastes flexíveis, algodões e escovas de dente, 45 (9,6%) disseram que não higienizariam enquanto não nascessem dentes, 107 (22,7%) não sabiam como realizar a limpeza da boca dos seus filhos e 1 (0,2%) relatou que utilizaria gaze ou fralda umedecida em água filtrada ou outro meio para limpar a boquinha de seu bebê (Tabela 2).
Quanto à higienização da cavidade bucal do bebê, 153 entrevistadas (32,5%) consideram que a boca do lactente deve ser higienizada três vezes ao dia, 118 (25,1%) responderam que duas vezes ao dia seria o ideal, 43 (9,1%) declararam que uma vez ao dia seria suficiente, 97 (20,6%) relataram que o ideal seria limpar mais de três vezes ao dia ou após cada mamada, 48 (10,2%) não souberam relatar qual o número de vezes seria ideal para limpar a boquinha do seu bebê e 12 (2,5%) relataram que fariam a higienização. Em relação ao início do uso de escova dental para limpeza da cavidade oral dos seus filhos, 401 (85,1%) entrevistadas relataram que começariam a utilizar a escova de dente no momento do nascimento dos primeiros dentes do bebê (6 meses a 1 ano de idade), 43 (9,1%) responderam que utilizariam quando todos ou a maioria dos dentes estivessem presentes no arco ( 2 a 3 anos de idade), 20 (4,2%) relataram não saber quando começar a utilizar a escova de dente em seus filhos e 7 (1,5%) disseram que começariam a utilizar a escova dental antes mesmo do nascimento dos dentes.
Quanto ao início do uso de dentifrícios, 294 (62,4%) puérperas relataram que iniciariam seu uso no momento do nascimento dos dentes dos seus filhos (6 meses a 1 ano de idade), 108 (22,9%) iniciariam quando todos ou a maioria dos dentes estivessem presentes no arco ( 2 a 3 anos de idade), 64 (13,6%) disseram não saber quando iniciariam, 4 (0,8%) responderam que iniciariam o seu uso antes do nascimento dos dentes e 1 (0,2%) respondeu que iniciaria seu uso após a troca de todos os dentes decíduos. A maioria das puérperas, 294 (62,4%), respondeu que optaria pelo uso de dentifrício sem flúor, 129 (27,4%) optariam pelo creme dental com flúor e 48 (10,2%) não sabiam qual tipo de dentifrício utilizariam (Tabela 2).
No que se refere à primeira consulta ao dentista, 202 (42,9%) entrevistadas relataram que levariam os seus filhos após a erupção dos primeiros dentes (6 meses a 1 ano de idade), 135 (28,7%) levariam quando todos ou a maioria dos dentes estivessem presentes no arco (2 a 3 anos de idade), 96 (20,4%) não souberam relatar qual seria o momento ideal para realizar a primeira consulta, 22 (4,7%) levariam seus filhos antes do nascimento dos dentes,15 (3,2%) levariam somente em caso de dor e 1 (0,2%) não respondeu a esta questão.
No que tange ao uso de chupetas, 372 mães (79,0%) consideram que seu uso pode trazer algum prejuízo aos seus bebês, 92 mães (19,5%) disseram não acreditar que o uso de chupetas possa ser prejudicial aos seus filhos e 7 mães (1,5%) disseram não saber se o uso de chupetas é prejudicial ou não. Do total de entrevistadas, 156 (33,1%) acreditam que o ideal é que seus filhos abandonem a chupeta até um ano de idade, 171 (36,3%) consideram que o abandono pode acontecer entre um e três anos de idade, 10 (2,1%) acreditam que o abandono pode acontecer entre quatro e sete anos de idade, 34 (7,2%) não sabiam qual seria a idade ideal e 100 (21,2%) declararam que não pretendiam utilizar a chupeta em seus filhos.
TABELA 2
DISCUSSÃO
O pré-natal situa-se no nível da atenção básica da assistência à saúde e tem como objetivo promover saúde, incluindo ações educativas, com o intuito de informar e educar acerca do autocuidado (BRASIL, 2008). Espera-se que durante o pré-natal as gestantes recebam informações sobre os principais questionamentos levantados, como amamentação, cuidados com bebê e alimentação, preparando-as para influenciarem positivamente a saúde dos seus filhos (BRASIL, 2000). No presente estudo, a maior parte das mães realizou o pré-natal e mais da metade delas relatou ter recebido informações sobre aleitamento materno, procedentes de médicos, enfermeiros e cartilhas.
O desconhecimento da relação entre amamentação e desenvolvimento orofacial do bebê foi observado entre a maioria das participantes do estudo, assim como o relato de não haverem recebido informações sobre a higiene oral dos seus filhos, o que condiz com o estudo de Gonçalves et.al. (2007).
O aleitamento materno influencia no desenvolvimento orofacial e existe uma estreita relação entre tipo e tempo de aleitamento com presença de hábitos de sucção não nutritivos (MOIMAZ et al.,2011). Estudos demonstram que a maioria das crianças que não receberam aleitamento materno exclusivo ou receberam, porém num período menor que seis meses, apresentaram maior frequência de má oclusão. Fato que pode estar relacionado com a inserção da chupeta e da mamadeira para efetuar o desmame (MASSUIA et al., 2012; SALIBA et. al., 2008).
No presente estudo, a maior parte das mães relatou possuir consciência que o uso da chupeta pode trazer algum malefício aos seus filhos, porém apenas uma pequena parcela (2,68%) tinha a intenção de não utilizá-las. Este resultado condiz com o estudo de Marques et. al. (2009), no qual se observou que mesmo as mães possuindo consciência dos malefícios que a chupeta pode causar, insistiam em utilizá-la para “acalmar” seus filhos e aumentar o tempo disponível para os afazeres domésticos. O uso da chupeta é desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e quando utilizada, deve ser removida ainda na dentição decídua. De preferência, não se devem ultrapassar os três anos de idade, pois se torna deletério e está fortemente ligado à presença de má oclusão na dentição permanente (SANTISO et. al., 2010; GÓES et. al., 2013; BRASIL, 2008).
A cárie é uma doença infecto-contagiosa e multifatorial que acomete a cavidade oral. O principal meio de a criança contrair as bactérias causadoras desta doença (Streptococcus mutans e Streptococcus sobrinus) é o contato frequente da mãe com os filhos (CASTILHO et.al., 2013). No presente estudo, a maioria das puérperas relatou que a cárie é uma doença, porém poucas sabiam que esta possui um caráter transmissível. Das que acreditavam na transmissibilidade, a maioria citou fontes de transmissão, tais como saliva, beijo e compartilhamento de objetos o que está de acordo com o estudo de Lima (2011). Este evidencia que a principal via de transmissão das bactérias causadoras da cárie para os bebês se dá por indivíduos que possuem contato direto e constante com eles, sendo a mãe, o principal agente. Podem ser transmitidas beijando-se a boquinha do bebê, provando a comida com o mesmo talher e bebendo no mesmo copo que a criança.
No presente estudo, a maior parte das mães não considerou que o leite materno seja capaz de causar cárie; porém, sabe-se que a lactose presente no leite materno também possui caráter cariogênico e pode resultar em lesões cariosas precoces nos bebês (DECKER & VAN LOVEREN, 2013).
Assim como no estudo de Rodrigues et. al. (2008) e Simioni et. al. (2005), a maioria das puérperas entrevistadas na presente pesquisa apresentava a pretensão de amamentar seus filhos no peito, pois considerava o leite materno como o melhor alimento para o primeiro ano de vida. Todavia, mais da metade das entrevistadas relatou que, se viesse a utilizar a mamadeira, acrescentaria substâncias adocicadas ao leite, tais como mucilagens, achocolatados e iogurtes. Este fato não é favorável, já que estudos como o de Rodríguez et. al. (2008) verificaram haver uma relação direta entre o consumo considerável de açúcar (principalmente sacarose) e a presença de lesões cariosas precoces em bebês de 0 a 36 meses. O Ministério da Saúde recomenda que os profissionais desmotivem essas práticas e incentivem as mães a oferecerem aos seus filhos alimentos contendo açúcar natural (frutas, leites) por serem menos significativos na etiologia da doença cárie (BRASIL, 2008).
O desenvolvimento da doença cárie está diretamente associado à higiene oral (NOGUEIRA et al., 2010) e este fato já faz parte do conhecimento das puérperas do presente estudo. Visto que grande parte delas considera a realização de uma boa higiene oral como a principal forma de se prevenir a doença cárie. A pretensão de iniciar a higienização da boca dos seus filhos antes do nascimento dos dentes decíduos, utilizando gaze ou fralda umedecida em água filtrada também foi observada no presente estudo, em consonância com os resultados encontrados por Simioni et.al. (2005); Ferreira et.al. (2010) e Lima et.al. (2011) e com o Caderno de Saúde Bucal (BRASIL/MS, 2008), o qual enfatiza que a higienização da boca dos bebês deve ser iniciada antes mesmo do nascimento dos dentes, utilizando-se gaze ou fralda umedecida em água filtrada.
Ainda nesse manual, recomenda-se que o uso de dentifrícios deve ser iniciado após a irrupção dos primeiros molares decíduos e sua quantidade deve ser equivalente a um grão de arroz cru, lembrando que não devem possuir flúor. A inserção dos fluoretos deve acontecer somente acima dos 2 anos de idade, em baixas concentrações (500 ppm de flúor) e, até os 06 anos de idade, recomenda-se que uso de dentifrícios fluoretados seja feito sob supervisão de um adulto consciente dos riscos da sua ingestão. No presente estudo, a maioria das puérperas relatou que iniciaria a escovação dental com o uso de escovas e de dentifrícios sem flúor, principalmente quando todos ou a maioria dos dentes estivessem presentes na boca. Esse relato coincide com o período indicado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008), já que aos dois anos de idade praticamente todos os dentes decíduos já irromperam na cavidade oral.
A integração entre o pediatra e o cirurgião dentista é essencial para que o atendimento à criança aconteça em sua integralidade, proporcionando uma orientação adequada sobre a saúde bucal durante os primeiros anos de vida (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOPEDIATRIA et al., 2008). Nunes et al. (2011) verificaram em seu estudo que a maioria dos pediatras entrevistados adota posturas que colaboram com hábitos saudáveis e positivos para a saúde bucal, tendo em vista que esses profissionais afirmaram informar aos pais sobre higiene oral de seus filhos, desaconselharam o uso de alimentos cariogênicos, chupetas e mamadeiras e indicaram que a primeira consulta ao dentista deveria ser por volta dos 6 meses de idade. No presente estudo, verificou-se que a maioria das mães considerava como momento ideal para levarem seus filhos à primeira consulta com o dentista, o período de nascimento dos dentes decíduos (6 meses a 1 ano) e apenas uma minoria buscaria atendimento somente em casos de dor, o que é corroborado pelos resultados encontrados por Rodrigues et. al. (2008).
CONCLUSÃO
O conhecimento das puérperas a respeito da higienização e cuidados com a cavidade oral dos bebês apresentou-se limitado. Há a necessidade de se reforçar às mães a importância da amamentação no desenvolvimento do sistema estomatognático, assim como alertá-las sobre a presença de açúcares em suplemento alimentares. Salienta-se assim, a importância de programas educativo-preventivos desenvolvidos por equipes multiprofissionais, especificamente voltados para o grupo de gestantes, contribuindo para o estabelecimento de hábitos saudáveis e consequentemente, para o bom desenvolvimento da saúde das mães e dos seus filhos.
REFERÊNCIAS
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BATISTELLA, Fabiane Inês Dalcin et al. Conhecimento das gestantes sobre saúde bucal: na rede pública e em consultórios particulares. RGO- Revista Gaúcha de Odontologia. Porto Alegre, v.54, n.1, p. 67-73, jan- mar. 2006.
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NOTAS
[i] Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva.
[ii] * Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva.
[iii] * Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva. Bolsista do CNPq- Brasil.
[iv] **Cirurgiã-dentista. Especialista em Microbiologia pela UFMG. Mestranda em Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia da UFMG.
[v] *** Cirurgião-dentista do Hospital Municipal Odilon Behrens
[vi] **** Cirurgiã-dentista. Doutora em Saúde Pública pela UFMG. Professora titular do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva.