Marcos Gomes Ferreira
Rosângela Pereira do Patrocínio
Margaret Pires do Couto

 

RESUMO
Este artigo tem como objetivo discutir os efeitos produzidos em um grupo de crianças com queixas de dificuldade escolares, inquietude, agressividade e algumas com diagnóstico de TDAH, que foram encaminhadas para tratamento na clinica de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Esses comportamentos inadequados para o ambiente escolar foram tratados como uma resposta do sujeito e não como déficits diversos.  

Palavras-chave: Psicanálise. Dificuldades escolares. Agressividade. TDAH.

 

Os atendimentos clínicos foram realizados na Clínica de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva com três crianças entre 11 e 12 anos, por dois estagiários, na disciplina Estágio Supervisionado IV, Estágio Conversando com as crianças, sob a supervisão da professora Margaret Pires do Couto.

Primeiramente, foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelas crianças que trouxeram a história de vida delas e a queixa que apresentavam no momento. Apresentaram também relatos de profissionais da escola onde elas estudam. As principais queixas diziam respeito à dificuldade de concentração, à agitação em sala de aula, à dificuldade em prestar atenção nas atividades propostas, que foram nomeadas pelos educadores como déficit de atenção e hiperatividade.

A partir das entrevistas com os responsáveis e dos atendimentos das crianças, pôde-se constatar que as dificuldades apresentadas pelos sujeitos constituíam uma resposta às situações vivenciadas no dia a dia, seja com seu Outro parental ou Outro escolar.

Durante os referidos atendimentos, pôde-se verificar também que a instalação da transferência possibilitou uma escuta dos sintomas como uma mensagem, ou seja, como querendo dizer alguma coisa. O acolhimento da mensagem e o trabalho de decifração de seu sentido permitiu, por parte dos sujeitos, uma construção de saber sobre aquilo que estava bem em sua vida. Após algumas sessões, as mães foram ouvidas novamente e relataram que houve melhora das crianças referente à queixa trazida.

O sintoma da criança, para Lacan (2003), é um “representante da verdade”, respondendo ao que há de sintomático na estrutura familiar. É um sintoma que pode representar o sintoma do casal ou ser produto da subjetividade da mãe, como “correlata de uma fantasia que a criança é implicada” (LACAN, 2003, p. 369).

Lacan discute o sintoma da criança em dois momentos fundamentais de seu ensino: em 1956/1957, no Seminário 4: A relação de objeto e, em 1969, em Notas sobre a criança. No primeiro momento, no seu Seminário, Lacan evidencia a clínica da neurose como uma clínica das questões, na medida em que a neurose é organizada e estruturada como uma questão, uma “questão fechada” para o sujeito. O sintoma advém de como uma resposta é dada pelo sujeito a essa questão, mas não sabe a que responde. Na clínica das questões é preciso que o analista faça uma escuta das modalidades de resposta que o sujeito produz e que se manifestam pela via do sintoma, uma resposta inventada ao enigma que é, para o sujeito, o Outro.

É nesta vertente, na escuta da criança como sujeito do inconsciente, que o analista virá a operar, possibilitando que ela venha a formular uma questão, dirigir ao analista seu sintoma com valor de mensagem e, sob transferência, venha a produzir algum saber sobre a falta do Outro.

Desse modo, os atendimentos com as crianças nos permitiram perceber que a prática clínica, ao oferecer a palavra, dá condições de mediar as situações conflitantes para o sujeito. A conversação em grupo, ao fazer circular a palavra, oferece uma troca de saberes e experiências permitindo a cada um elaborar e construir soluções inéditas para os impasses que vivenciam.

O resultando disso foi a melhora dos sintomas trazidos no momento da entrevista e permitindo então a essas crianças reorganizar seus laços sociais.

 

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Tânia. A escrita da clínica: psicanálise com crianças. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

RABINOVICH, Diana S. O psicanalista entre o mestre e o pedagogo. In: Cadernos de Psicologia. Belo Horizonte, 2001.

NEME, Leila. O a–prender na constituição do sujeito. A criança e o saber. Publicação da Letra Freudiana – Escola de Psicanálise, n.23, 1999. 

LACAN, Jacques. Os Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 

LACAN, Jacques. Nota sobre a criança. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: 

Jorge Zahar, 1993. 

LACAN, J. O seminário, livro 4: a relação de objeto (1956/57). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. 456 p. 

E4-06 Déficit de atenção ou resposta do sujeito?

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