Sheila Estevão de Souza
Viviane de Oliveira Menezes[i]

 

O Programa Escola Integrada é uma das ações da Prefeitura de Belo Horizonte, que visa ampliar a jornada educativa de crianças e adolescentes, na faixa etária de 6 a 14/15 anos, oportunizando vivências diferenciadas da formação em sala de aula. O seu lançamento oficial aconteceu em março de 2007.[ii]

O programa é multidisciplinar e pretende integrar os diversos projetos sociais já existentes, tendo como base a relação entre os setores das secretarias municipais de Educação, Políticas Sociais, Cultura, Esportes, Regulação Urbana e Saúde, sob a Coordenação da Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação, articuladas a setores da sociedade civil, empresas e  ONGs.[iii] 

Atualmente, a escola integrada está implantada em 50 escolas da rede pública municipal. O Programa atende a 15.000 crianças e adolescentes do Ensino Fundamental. Os alunos da Escola Integrada são atendidos pela manhã e à tarde, sendo o almoço servido na escola. As atividades são realizadas tanto dentro quanto fora da escola, em diversos lugares da comunidade. Ao todo, o aluno é atendido durante 9 horas.[iv]

Cada Escola Integrada conta com um professor comunitário como coordenador. Todas as atividades da Escola Integrada, como aula de língua estrangeira, auxílio no dever de casa, prática de esportes, brincadeiras, oficinas e aulas ao ar livre, são coordenadas por esse professor.[v]
Para o desenvolvimento de suas atividades, o programa conta com a parceria de diversas instituições de ensino superior, que cedem seu espaço físico para que as oficinas aconteçam. O objetivo do programa é contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos, visando uma maior efetividade na formação e aprendizagem das crianças e adolescentes atendidos pela Prefeitura de Belo Horizonte.
[vi]

Portanto, este artigo pretende relatar o trabalho realizado na Escola Estadual Hugo Werneck, implantado nessa escola no dia 14 de agosto de 2007, atendendo a cerca de 380 alunos. O trabalho a ser relatado foi iniciado a partir da queixa acerca do comportamento deprecativo dos alunos em relação ao patrimônio da instituição Newton Paiva, cedente de espaço físico para as ações da escola integrada. A Clínica de Psicologia foi solicitada a pensar em ações de conscientização das crianças quanto ao bom uso do espaço cedido pela faculdade e a importância desse para o programa.

As intervenções foram realizadas  em dois grupos, com aproximadamente 20 alunos do ensino fundamental, por meio de oficinas de dinâmica de grupo. Como a demanda foi apresentada no final do semestre letivo e não se dispunha de tempo para ações mais longas e complexas, as atividades propostas foram pontuais. Após esses encontros, alunos do curso de Psicologia e a coordenadora do projeto escola integrada reuniram-se para comentar as atividades e seus resultados, além de afirmarem a necessidade de um trabalho mais sistemático com as crianças. Para tal, ficou acordado que, no início de 2008, haveria um encontro para discussão e formulação de novas propostas.

No dia 23 de fevereiro de 2008, realizou-se o primeiro encontro para que fossem desenhadas as propostas de continuidade da parceria da Clínica de Psicologia e a escola integrada. Definiu-se que seria necessário trabalhar a relação professor-aluno, desempenhada pelos “oficineiros” do projeto, e não apenas intervir de maneira corretiva nos grupos de alunos, para entender o funcionamento do programa e, então, atuar melhor na demanda. Para tal, foram realizadas observações in loco nas salas de aula da escola, que subsidiaram as constatações de como o programa funciona na realidade. A princípio, a maior dificuldade encontrada foi na forma de selecionar pessoas qualificadas para trabalhar com as crianças. Se o programa visa a uma maior efetividade na formação e aprendizagem das crianças e adolescentes, acredita-se que seria necessário dispor de preparo inicial e qualificação continuada para os instrutores e oficineiros.

Como o programa não conta com diretrizes definidas, os prestadores de serviço são contratados temporariamente, e, assim, constatou-se um alto índice de rotatividade, prejudicando o andamento das oficinas. Dessa forma, o vínculo estabelecido com o programa torna-se frágil, não havendo um sentimento de pertencimento com relação a esse. Observou-se ainda a falta de comprometimento dos colaboradores com o programa, já que faltam bastante e as atividades propostas por eles são repetitivas e pouco criativas.

A partir da verificação dos dificultadores do programa, a equipe do Núcleo de Gestão da Clínica de Psicologia propôs um momento de reflexão e capacitação com os professores (oficineiros) a fim de sensibilizá-los quanto à importância da sua atuação no programa da escola integrada. Este encontro, nomeado de integração, foi marcado com antecedência e todos foram convidados a participar. Porém, na data marcada, apenas a coordenação do projeto e dois, dos quinze colaboradores, compareceram. Sentimentos de desapontamento e frustração perpassaram as estagiárias do Núcleo de Gestão, que fizeram um “diagnóstico” prévio, por meio das observações in loco e conversas com os professores, e prepararam um material diversificado e interessante para o encontro.

O encontro realizou-se mesmo assim e, ao longo do mesmo, as colaboradoras presentes apresentaram os seguintes entraves: a presença dos demais colaboradores naquele momento, a organização no que diz respeito às tarefas, faltas sem aviso prévio dos mesmos, a dificuldade de transporte das crianças da escola para os locais onde acontecem as oficinas, falta de encontro entre os professores para a definição de regras, e ainda o desconhecimento dos professores em relação ao programa ao ingressar no mesmo, mostrando, assim, a falta de estrutura encontrada no programa, o que o impede de atingir um objetivo sólido.

Para que o programa escola integrada cumpra o seu papel social, é importante que sejam definidas, de maneira fundamentada, diretrizes mais sólidas, que pautem o seu trabalho. Assim, seus objetivos ficam  mais claros, possibilitando que sejam  traçadas estratégias diferenciadas para o trabalho com os alunos, de  modo a melhorar as ações do programa, alcançando, assim, bases para fundamentar um objetivo diferente do existente. As perguntas que nos cabem são: qual o objetivo da escola integrada? Seria apenas tirar as crianças da rua para que seus pais possam trabalhar tranqüilos ou oferecer uma educação de qualidade em tempo integral?  

 

 

REFERÊNCIAS

Escola integrada: Belo horizonte é uma sala de aula. Disponível em: <http://portal2.pbh.gov.br/pbh/pgESEARCH_CENTRO.html?paramIdCont=13226.> Acesso em: 24 jun. 2008.

 

Prefeitura de BH: Programa Escola Integrada de Belo Horizonte será lançado dia 19 de março. Disponível em: < http://www.undime.org.br/htdocs/index.php?id=4132.>  Acesso em:  24 jun. 2008.

 

 

NOTAS DE RODAPÉ


[i] Alunas do Curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Denise Rossi.

 

[ii] Disponível em http://www.undime.org.br

 

[iii] Disponível em http://www.undime.org.br

 

[iv] Disponível em http://portal2.pbh.gov.br/pbh

 

[v] Disponível em http://portal2.pbh.gov.br/pbh

 

[vi] Disponível em http://www.undime.org.br

E1- 03 ESCOLA INTEGRADA: UMA VIVÊNCIA PRÁTICA

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