Poliana Mayra Teixeira Lopes[i]
Juliana Brandão[ii]

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre a arte do encontro terapeuta-cliente a partir do eixo epistemológico da Psicologia Humanista, mais especificamente  da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) e dos pressupostos teóricos de Carl Ranson Rogers. Destaca-se a dificuldade do encontro com um outro até então desconhecido e ressalta-se a importância e a beleza desse encontro que pode ser entendido como uma arte.  

Palavras-chave: Encontro. Arte. Eu-Tu. Relação terapeuta-cliente.

 

O presente artigo discorre sobre a arte do encontro terapeuta-cliente, tendo como base o eixo epistemológico da abordagem Humanista, mais especificamente a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) e os pressupostos teóricos de Carl Ranson Rogers. 

Muitos acadêmicos, quando iniciam sua prática de atendimento nos estágios curriculares, ficam inseguros mesmo após a realização de várias leituras, supervisões e mesmo sendo considerados aptos para a realização dos atendimentos. Isso é compreensível por se tratar de um encontro com o outro que até então lhes é desconhecido. Esse encontro pode ser considerado como uma arte, uma habilidade que o terapeuta apresenta diante do outro.  

Segundo Miranda (2006), falar de arte é falar das habilidades necessárias para a execução de um trabalho em diversos campos da experiência e da prática humana. É uma capacitação especial para a realização de uma tarefa específica, expressando a beleza e a harmonia da subjetividade humana.  

O processo de psicoterapia tem como missão ajudar o cliente que vem ao encontro do psicoterapeuta a buscar uma nova organização de sua vida. Há, muitas vezes, uma necessidade dessa pessoa de se (re)descobrir e se (re)organizar profundamente.  

O psicoterapeuta, então, pode ajudar o cliente, sendo um facilitador de seu processo, ajudando-o a descobrir o rumo de sua existência, que pode se concretizar por meio de uma “experiência” de descobrir o verdadeiro sentido da vida e da tentativa de ser coerente consigo mesmo, buscando um acordo interno.

Gobbi et al (2005) diz que acordo interno seria o mesmo que congruência ou autenticidade. Ele então conceitua autenticidade ou congruência como uma capacidade de ser o que realmente se é com o reconhecimento e aceitação de si próprio e de suas próprias vivências, de forma clara e voltada para a relação com o outro. Sendo autêntico, a pessoa entra num processo de conhecer e aceitar o que ele é de fato.

É importante salientar que o diálogo é uma das possibilidades para tentar abordar e compreender o outro. A fala é a melhor manifestação de diálogo, mas o diálogo pode ser genuíno e acontecer mesmo quando o silêncio está presente. As palavras são um começo para um encontro Eu-Tu, mas não são estas que o definem.  

Hycner (1995) cita que Buber descreve a relação do Eu-Tu como sendo atitudes primárias do ser humano para assumir uma relação com o outro.  

A experiência Eu-Tu é estar plenamente presente quanto possível com o outro, com pouca finalidade ou objetivos direcionados para si mesmo. É uma experiência de apreciar a “alteridade”, a singularidade, a totalidade do outro, enquanto isso também acontece, simultaneamente, com a outra pessoa. É uma experiência mútua: é também uma experiência de valorizar profundamente, estar em relação com a pessoa – é uma experiência de “encontro”. (Hycner 1995, p. 33)  

Para Miranda (2006), esse encontro acontece quando uma pessoa fica diante de outra, movendo-se as duas em direção a um mesmo ponto. Encontrar uma pessoa é ficar frente a frente com ela, passando a conhecê-la, a perceber sua condição, a descobri-la. Se tratando desse encontro no setting terapêutico, a relação interpessoal encontra-se em sintonia profunda com ele de forma recíproca, sendo possível “casar” a arte com o encontro. 

Alguns encontros acontecem quando dois olhares se cruzam, sem nenhuma palavra, quando o diálogo acontece no “reino” do “entre”, sendo genuíno e mútuo. Costa (2001) diz que: 

O cliente que chega para o atendimento, muitas vezes, carece desse encontro, não só o encontro de si, mas no e do outro. O “entre”, constituído na relação, será o termômetro do envolvimento genuíno do psicoterapeuta com o cliente. Quando o primeiro dispõe-se, verdadeiramente, a entrar no campo da experiência desse último, um processo de enriquecimento mútuo põe-se em andamento. (p.115)

A relação terapeuta-cliente é denominada também como um encontro.  

Rogers (1987) entende a relação terapeuta-cliente como uma relação de ajuda, na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida. Para ele, é fundamental que o outro seja respeitado na sua integridade, independente de qualquer mérito, competência ou diagnóstico. Trata-se antes de tudo, de uma consideração pelo outro. A forma como terapeuta-cliente se relacionam no processo do tratamento terá efeitos no seu resultado.

Portanto, pode-se dizer que o encontro terapeuta-cliente é visto como uma arte a partir do momento em que eu desenvolvo habilidades de respeito e compreendo a subjetividade do meu cliente, e a arte é vista como um encontro quando eu posso estar realmente com essa pessoa considerando-o e valorizando o que ele me oferece. 

 

REFERÊNCIAS 

COSTA, Patrícia Gonçalves. O encontro possível na relação psicoterápica. In.:______ De um Curso a um Discurso – Travessia.  XVII Jornada de Trabalhos dos alunos do curso de formação de psicólogo. COPPE, Antônio Angelo Fávaro et al (org.). 2001. 

GOBBI, Sérgio Leonardo et al. Vocabulário das noções básicas da abordagem centrada na pessoa. 2.ed. São Paulo: Vetor, 2005.  

HYCNER, Richard & JACOBS, Lynne. A base dialógica: Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo, 1995.  

MIRANDA, Clara Feldman. Encontro: uma abordagem humanista. 3. Ed. Belo Horizonte: Crescer, 2006. 

ROGERS, Carl Ranson. Tornar-se pessoa, São Paulo: Martins Fontes, 1987 


[i]Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. 

[ii]Professora supervisora de estágio do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva

E2-43 A arte do encontro