Glaucilene Ramalho[i]
Claudia Neto[ii] 

RESUMO
O presente artigo vem enfatizar a importância da comunicação entre o casal e apresenta dois casos observados na clínica. Também é pontuada a questão da individualidade e da conjugalidade presente no casamento.

Palavras-chave:Casamento. Casal. Comunicação. Conjugalidade.

 

O casamento contemporâneo ocupa um lugar importante na vida das pessoas e requer um alto grau de intimidade, pois tem um significado intenso na vida dos indivíduos e gera um grande investimento afetivo.  

Esta vivência compartilhada dos parceiros è abordada por Magalhães (2003) no seu texto Transmutando a subjetividade na conjugalidade, como conjugalidade que se estrutura a partir do encontro amoroso, que é considerado fonte de motivação e de manutenção do casamento. De acordo com Magalhães: 

Os estudos sobre a conjugalidade ressaltam a estrutura que se forma a partir das constituições individuais dos parceiros e do interjogo dinâmico inconsciente que ocorre no par conjugal. Contudo, consideramos que o encontro amoroso e a conjugalidade que evolui desse encontro, através da recordação, da repetição e da elaboração dos Édipos dos parceiros, exercem influências estruturantes e desestruturantes para cada um deles. (MAGALHÃES apud CARNEIRO, 2003, p.226).            

Enfim, a conjugalidade influencia a subjetividade do sujeito. Nela haverá momentos de fusão e também momentos de diferenciação entre os parceiros. A conjugalidade tende a operar como sendo um espaço de elaboração, de projeção, de transformação entre o “eu” e o “nós”.

Segundo Magalhães (2003), o “eu” surge a partir de um “nós” ilusório, aquele da simbiose mãe-bebê e que vai ressurgir de forma transmutada no par conjugal. Portanto, a conjugalidade é de fato um espaço de transicionalidade, que tem como objetivo propiciar a afirmação das subjetividades dos parceiros de forma criativa e com potencial de elaboração e não só de repetição. 

De acordo com Sinmel, em seu texto Casamento contemporâneo: construção de identidade conjugal (CARNEIRO, 2001) constata-se que, no que diz respeito ao casamento moderno, o parceiro deseja o outro por inteiro. Há um aumento das expectativas, uma extrema idealização do outro e uma superexigência consigo mesmo, provocando tensão e conflito na relação conjugal. (SINMEL apud CARNEIRO, 2001, p.69)  

Ainda de acordo com Carneiro: 

Na contemporaneidade, as relações conjugais são constituídas em torno da construção das identidades dos cônjuges. O compromisso nessas relações é o de sustentar o desenvolvimento individual , e a relação se mantém enquanto for prazeroso e útil para cada um. Todavia, quanto mais a busca de autonomia individual no seio do casamento mais o casal pode se fragilizar. (CARNEIRO, 2001, p.69)   

A comunicação é um fator primordial entre o casal, é uma das condições necessárias para a intimidade, para que haja interação conjugal. A intimidade é entendida nesse contexto como uma abertura para o outro. Para Carneiro, tal intimidade para ser alcançada depende, essencialmente, da igualdade entre os parceiros e da comunicação emocional de cada um consigo mesmo e com o outro. (CARNEIRO, 2001, p.70) 

Na clínica observamos este contraste na intimidade de dois casais, o primeiro é chamado de João e Ana, casal que tem o mesmo nível cultural e intelectual. Eles têm algumas falhas na comunicação, como por exemplo, crêem que já se sabe o que o outro deseja ou que se conhecem suficientemente bem, dessa forma não é necessário dizer. Mas, apesar disso, percebemos que há uma cumplicidade entre ambos, eles se amam e se respeitam.  

O segundo casal, que chamaremos de José e Maria, é bem diferente. José é um homem rude, não terminou nem o primeiro grau e tem um emprego baseado no trabalho braçal. Maria é professora, formada em pedagogia e tenta dominar a situação no lar. Maria corrige o marido o tempo todo, vive dizendo para ele voltar a estudar, o que o faz sentir inferior a ela. Além disso, obriga-o a dar todo o salário para ela administrar. Com o passar dos anos, José tornou-se um homem violento, talvez como defesa, já que não tem argumentos diante da esposa, que lhe é “superior”. Ele parte para a agressão, motivo pelo qual procuraram a clínica, orientados pela Delegacia de Mulheres.    

Observamos na vida desses dois casais que, quando a diferença é exorbitante, o casal terá dificuldades de se comunicar ou de chegar a um denominador comum. Percebemos que João e Ana se respeitam; existem conflitos, mas são superáveis, mesmo diante dos problemas, que são resolvidos até com certo humor. João adora fazer trilha e Ana sabe disso, mas reclama. Ele diz que para evitar o “bla bla bla” da esposa só comunica na hora que está indo. Ana ri e diz que é verdade e que briga porque gostaria que aquele tempo fosse gasto com ela e com os filhos. Já o segundo casal quase não se suporta: José chegou a confessar para as terapeutas que hoje está com Maria apenas por causa das filhas. Maria não dá nenhuma abertura para José. Ela não o aceita como ele é, quer moldá-lo o tempo todo, humilha-o, diz que foi ela quem comprou o carro e o faz de seu motorista.  

O casamento é a união entre individualidade e conjugalidade, o que é diferente de fusão, pois o sujeito inserido nessa relação não deixa de ser um, uma pessoa, que tem desejos e necessidades diferentes do outro. E é isso que precisa ser observado e respeitado entre os cônjuges. 

Na pesquisa sobre construção da identidade conjugal no casamento contemporâneo, desenvolvida por Carneiro (2001), homens e mulheres disseram que é importante dentro do casamento a valorização da individualidade na vida a dois, ao mesmo tempo em que enfatizam a importância de compartilhar e dividir. (CARNEIRO, 2001, p.78). Nesse aspecto, precisamos enfatizar que tanto para compartilhar quanto para dividir é preciso primeiramente comunicar.  

Segundo Cerveny (1994), referindo-se à pesquisa do grupo Palo Alto, explica que a comunicação não só transmite informação, mas também define a relação. A família se comunica por meio do espaço, do olhar, do silêncio, do movimento. A família é vista como um circuito de retroalimentação, onde o sujeito é afetado pelo comportamento de cada uma das pessoas envolvidas nesse processo. 

 

 REFERENCIAS

CARNEIRO, Terezinha Feres. Casamento contemporâneo: construção da identidade conjugal. In __. Casamento e Família do social à clinica. Rio de Janeiro. NAU, 2001, p. 67-80. 

______. Transmutando a subjetividade na conjugalidade. In: __ Família e casal: arranjos e demandas contemporâneas. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, S.ao Paulo: Loyola, 2003, p.225-245 

CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira. Família e repetição. In__: A família como modelo: desconstruindo a patologia. Rio de Janeiro. Editorial Psy II, 1994, p3 – 61


[i] Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva 

[ii] Professora supervisora de estágio do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva

E2-21 A importância da comunicação entre o par-conjugal