Sabrina Santos Neolácio [i]

 

A Ludoterapia – terapia por meio do brincar – é uma forma de psicoterapia,cuja meta é promover ou restabelecer o bem-estar psicológico do indivíduo através de atividades lúdicas. No contexto de desenvolvimento social da criança a atividade lúdica é parte do repertório infantil e integra dimensões da interação humana necessária na análise psicológica (regras, cadeias comportamentais, simulações ou faz-de-conta, aprendizagem observacional e modelagem). Esta possibilidade de uso integrado de diversas técnicas talvez explique a aplicação da ludoterapia a diversas questões relativas ao comportamento de crianças (traumas psíquicos, abuso sexual, retardo, adoção, orientação a filhos de dependentes químicos).

Não é possível descartar a importância das orientações aos pais para o sucesso do atendimento. Os principais fatores que afetam a adesão ao atendimento são o nível educacional dos pais, a empatia do terapeuta face aos sentimentos ou reações emocionais dos pais e a interação terapeuta-cliente.

A ludoterapia é uma importante aliada  do desenvolvimento social da criança. Ela permite que a criança se expresse de uma forma a se fazer ouvida e faz com ela crie opiniões sobre si e sobre o mundo social ao seu redor. O desenvolvimento da criança ocorre por meio de um processo que envolve uma rede de relações sociais, isto é, acontece em um contexto em que a criança é colocada com outras crianças o tempo todo.

A presença da família é um instrumento de fundamental importância para a sobrevivência e o amadurecimento psíquico e social da criança, pois, nesse período, as outras crianças não são imediatamente procuradas como companheiras para suas brincadeiras e, se não houver esta referência familiar, o desenvolvimento vai, de alguma forma, ficar comprometido, devido ao processo de aquisição de individualidade. Sendo assim, é fundamental que os pais ou responsáveis estejam presentes neste primeiro momento da vida e de construção de identidade e individuação da criança. Este primeiro contato permitirá a construção de uma visão de mundo, já que a criança está inserida em uma cultura que compartilha valores e crenças diferentes, a partir do grupo social em que se encontra inserida.

A presença do outro (um adulto, quase sempre) é veiculo para o estabelecimento dos vínculos básicos e essenciais entre crianças e o mundo social, através dos quais ela passa a se reconhecer e a reconhecer o mundo numa relação de reciprocidade. (MIRANDA, 1991, p. 134).

Podemos dizer então que este contato se dá inicialmente na família ou responsáveis e depois na escola, onde a criança partilha de um grupo social que lhe fornece as ferramentas de percepção e organização do seu cotidiano.

Visto que a família tem como importante função a socialização básica e como essência valores específicos que são inseridos em uma rede de significações, um outro momento para dar continuidade ao processo de desenvolvimento moral e emocional da criança é o brincar. Esse processo pode se dar na escola, em casa ou em outros contextos.

Além de ser um direito regulamentado por lei, de acordo com Winnicott (1982, p.163), “a brincadeira fornece uma grande organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais”, isso, para a criança, é muito importante, pois, além de ser lugar de construção, é dotado de significação social.

O jogo simbólico da brincadeira permite um extravasar dos sentimentos, auxilia na reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho mais satisfatório ao seu desejo. O ato de brincar com outras crianças favorece o entendimento de certos princípios da vida, como o de colaboração, divisão, liderança, obediência às regras e competição, levando em consideração que o desenvolvimento da criança ocorre por meio de um processo que envolve uma rede de relações sociais, isto é, acontece em um contexto em que a criança é colocada com outras crianças o tempo todo.

Por meio da segurança da brincadeira, a criança pode experimentar suas próprias formas de ser, serve também como linguagem, pois, muitas vezes, incapaz de expressar-se verbalmente, utiliza-se da brincadeira para formular e assimilar suas vivências.

Segundo Oaklander (1980, p. 184), “a brincadeira desempenha uma função vital para a criança. É muito mais do que apenas a atividade frívola, leviana e prazenteira que os adultos julgam que é”. No caso dos pais, não é raro encontrá-los desvalorizando a escola, dizendo que a criança vai lá só para brincar, que gasta muito material e que não aprende nada. Na realidade, as brincadeiras deveriam ser consideradas suas atividades mais sérias, pois é por meio delas que é possível compreender como ela vê e constrói seu mundo, como ela gostaria que ele fosse, o que a preocupa e os problemas que a cercam, é onde os jogos se tornam mais propositados e construtivos. Para Winnicott (1975, p. 63), “o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde, o brincar conduz aos relacionamentos grupais”.

A ludoterapia tem mostrado excelentes resultados em crianças com diversos tipos de dificuldades ou problemas. A ludoterapia permite que a criança expresse seus medos, conflitos e ansiedades, possibilitando a elaboração desses sentimentos, já que brincando, a criança aprende o funcionamento das coisas, as regras, o que é certo e errado, aprovado ou recriminado em nossa sociedade. Aprende que perder faz parte da vida e que há sempre um dia após o outro. Por meio do brincar, a criança está experimentando o mundo, os movimentos e as reações, tendo assim elementos para desenvolver atividades mais elaboradas no futuro.

A brincadeira pode ser um espaço que possibilita à criança re-significar e compreender suas ações nas relações com as outras crianças e figuras de autoridade, experimentando regras de convivência para a  mudança social e  crescimento pessoal.

Assim, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida. 

 

REFERÊNCIAS

MAHLER, Margaret S. A quarta subfase: Consolidação da individualidade e início da consciência do objeto emocional. In:______. O nascimento psicológico da criança: simbiose e individuação.  Rio de Janeiro: Zahar, 1977, cap. 7, p. 138-150.

 

MIRANDA, Marília Gouvêa de. O processo de socialização na escola: a evolução da condição social da criança. In:______. LANE, Silva T. M. Psicologia social: o homem em movimento. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991, parte 1, p. 5. 

 

OAKLANDER, Violet. Outras considerações. In:______. Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. 10. ed. São Paulo: Summus, cap. 11, p. 315-348.  

 

WINNICOTT, D. W. Porque as crianças brincam. In:______. A criança e o seu mundo. 6 . ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1984, cap. 22, p. 161-165.

 

NOTA DE RODAPÉ



[i]Aluna do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Natércia Acipreste Moura.

E1- 38 LUDOTERAPIA: A ARTE DO BRINCAR

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *