Leandro Silva Leroy [i]

 

INTRODUÇÃO

Quando falamos sobre crianças, inevitavelmente nos referimos às fantasias sonhadas e, de certa forma, vividas por elas. Falamos sobre um vasto mundo de curiosidades e anseios, daquilo que está por vir em suas vidas.

Dentro do consultório, podemos pensar na ludoterapia como um exercício infantil de se conviver e de saber lidar com seus processos internos, como os fatos que ocorrem no seu dia-a-dia vão ser processados e quais as conseqüências de suas vivências?

Proponho aqui uma análise crítica do uso de histórias infantis na ludoterapia, com a finalidade de levantar os prós e contras de tal prática. Este exercício é importante para ampliar as formas de atuação do psicólogo com crianças, possibilitando maior sucesso na sua atuação.

 

1.     DESENVOLVIMENTO

A atuação da psicologia com crianças é sempre peculiar. As crianças são pessoas em formação e percebem o mundo ao seu redor com olhos aguçados e curiosos, por isso devemos sempre repensar o seu espaço dentro do consultório e quais as formas de atuar como profissional das ciências humanas.

Uma dessas formas de atuação é a ludoterapia, que    é um método que leva a criança a lidar com seus conflitos e sentimentos por meio do jogo. Segundo Axline (1984 p. 26), “a ludoterapia é baseada no fato de que o jogo é o meio natural de auto-expressão da criança”.

Dentro do consultório, é possível observar que, geralmente, as crianças são, de certa forma, sutilmente coagidas a “sentir por aqueles que as rodeiam. As pessoas ensinam de modo indireto como se comportar, como agir e como se portar diante dos fatos de sua vida. Esse ensinamento advém da cultura e dos relacionamentos estabelecidos pela criança ao longo de sua vida.

A ludoterapia é uma forma de a criança conscientizar-se do que está sentindo e representar seus processos internos, ajudando-a a se libertar, assim, de experiências repetidas, e torna-se sujeito.

Libertando-se desses sentimentos através do brinquedo, ela se conscientiza deles, esclarece-os, enfrenta-os, aprende a controlá-los, ou os esquece. Quando atinge certa estabilidade emocional, percebe sua capacidade de se realizar como um indivíduo, pensar por si mesma, tomar suas próprias decisões tornar-se psicologicamente mais madura e, assim sendo, tornar-se pessoa (Axline, 1984, p. 26).

Na concepção da Ludoterapia, há várias formas de se atuar. As possibilidades são muitas, mas há formas de jogo que podem ajudar a criança a conscientizar-se sobre as suas vivências e seus sentimentos, sobre as mesmas de forma mais imaginativa, mais representativa. Trago aqui a proposta do uso de histórias e contos infantis na prática clínica da ludoterapia.

Esta prática envolve a invenção de histórias por parte do terapeuta; a invenção de histórias por parte da criança; a leitura de histórias já escritas; a utilização de objetos, recursos, aparelhos ou brinquedos para estimular histórias.

As histórias possibilitam à criança criar uma fantasia, na qual ela pode mesclar elementos de sua vida cotidiana com representações e imaginações subjetivas. Mesmo os contos populares infantis envolvem aspectos psicológicos e vivenciais da criança enquanto ser existente no mundo. Segundo Oaklander (1980 p. 113), “os contos de fada e estórias populares, assim como as canções populares, emergem das profundezas da humanidade e envolvem lutas, conflitos, tristezas e alegrias que as pessoas encontraram através dos tempos”.

Os contos de fada são histórias que, de certa forma, trazem uma lição ao seu leitor. Dizem de uma experiência que nem sempre pode ter sido agradável, mas que trouxe ensinamentos de como se portar diante de algumas dificuldades da vida.

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada enviam à criança de inúmeras maneiras: que uma batalha contra as sérias dificuldades da vida é inevitável, constitui parte intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida, se vai firmemente ao encontro das adversidades inesperadas e muitas vezes injustas, todos os obstáculos são vencidos e no final a pessoa emerge vitoriosa (Oaklander, 1980, p.113).

Os contos infantis normalmente são histórias que envolvem um ritmo e uma forma mágica de ser contada. Sempre há uma parte do conto de fadas em que a criança pode sonhar com aquilo que lhe tira os pés do chão por alguns instantes. Segundo Oaklander (1980, p.114), “existe algo de rítmico e mágico na forma como o conto de fadas se desenrola, proporcionando um fluxo dentro e fora da mente e do coração daquele que ouve”.

Apesar de tudo, os valores aprendidos na nossa modernidade e a cultura do “ter” ,sobrepondo o “ser”, podem de certa forma refutar os conceitos aprendidos nas histórias infantis, principalmente as do “feliz para sempre”. Ainda segundo Oaklander (1980, p.114), “são os valores contraditórios daqueles que controlam as atividades da vida real das crianças que desconcertam as mesmas, e não aquilo que lêem nos livros”. Porém podemos pensar que é preciso um pouco de fantasia para que a criança possa perceber a sua imaginação e usá-la de modo que consiga estabelecer um diálogo entre o mundo real e o seu mundo representativo.

 

2.     CONCLUSÃO

É preciso exercitar e criar novas formas de atuação do psicólogo dentro da clínica da ludoterapia. É preciso incentivar as crianças a pensarem por si mesmas e a se portarem de modo consciente no mundo em que vivem. Para isso, o uso de contos infantis e histórias pode ser bastante benéfico.

A imaginação da criança é algo de mais valioso que se pode ter, porque ela ainda não apreendeu totalmente os valores adultos de convivência. Ela pode viver sem ter que se sujeitar aos preconceitos e às tiranias que a sociedade do consumo nos submete. As histórias ajudam a criança a falar sobre suas fantasias e como as mesmas se apresentam em seu mundo circundante.

 

REFERÊNCIAS

AXLINE, Virginia Mae. Ludoterapia. 2. ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1984.

 

OAKLANDER, Violet. Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. 10. ed. Summus, 1980.

 

NOTA DE RODAPÉ


[i] Aluno do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Natércia Acipreste Moura.

E1- 36 O USO DE CONTOS POPULARES INFANTIS NO PROCESSO DE LUDOTERAPIA

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