“Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano”.(SKINNER, 1974, p. 08.)

Cristiane Ferreira Duarte[i]

 

A crise atual da família, com casais que se queixam de insatisfação conjugal, atribuída às dificuldades de comunicação, tem provocado o interesse de muitos pesquisadores de diversas áreas das ciências humanas. É necessário avaliar a possível influência de variáveis conjugais, tais como habilidades sociais, forma de controle e comunicação na mútua satisfação. As relações teóricas obtidas podem ajudar a predizer mudanças comportamentais na comunicação conjugal, com um possível aumento da satisfação conjugal. Para compreender como uma pessoa desenvolve um comportamento agressivo, é melhor entender o que causa esse comportamento, observando primeiro em que tipo de ambiente ela está inserida e saber de que forma ela aprendeu a ser agressiva. Ninguém nasce agressivo, os comportamentos são construídos ao longo dos anos da vida do indivíduo, pelas contingências de reforço.

Segundo Del Prette (1999), as habilidades sociais envolvem habilidades para selecionar informações úteis e relevantes de um contexto interpessoal e o uso dessa informação para determinar comportamentos apropriados à meta e à execução de comportamentos verbais e não verbais, que aumentem a probabilidade de obter e manter a boa relação com os outros. 

Segundo Neno e Tourinho (2003, p.66), nas relações afetivas, é importante que haja espaço tanto para as declarações de amor quanto para as manifestações de discordância, insatisfações etc.

Na relação entre os membros do casal, muitas vezes são geradas impressões errôneas, que trazem dificuldades e aborrecimentos desnecessários, porque não há uma disposição para rever, modificar ou confirmar aquela impressão.

A pessoa assertiva é aquela que se torna capaz de agir em seus próprios interesses, se afirma sem ansiedade indevida e expressa seus sentimentos sinceros sem constrangimento ou exercita seus direitos, sem negar os deveres.

A pessoa assertiva é aberta e flexível, preocupa-se com o bem- estar e os direitos dos outros. No entanto, a vivência de situações extra-familiares impõe, a todo instante novos desafios interpessoais. Cabe aos indivíduos, sujeitos de seus próprios desejos e convicções, saberem se comportar assertivamente, sem afetações, falsos elogios ou agressões verbais ou físicas.

Nas relações sociais, essas necessidades afloram, tornam-se evidentes. Ser capaz de lidar adequadamente com as necessidades existenciais e sociais implica em ser socialmente hábil. Comportar-se de maneira habilidosa deve envolver intencionalidade e conduta hábil, caso contrário, o comportamento estará destituído de significado.

Segundo Anton (2000), imagens idealizadas a respeito do relacionamento conjugal, que podem ter sido sustentadas no tempo do namoro, tal como a da “alma gêmea”, ou outras ilusões acerca do amor, geram uma idealização de que as afinidades entre parceiros são tamanhas, que são capazes de anular as diferenças e fazer com que nunca ocorram divergências.

Segundo Conte e Brandão (2003, p. 7), ser assertivo é um comportamento que envolve discriminar o momento certo de falar e como se expressar claramente quanto aos sentimentos pensamentos, competindo tanto com a passividade quanto a agressividade.

Segundo as mesmas autoras, o comportamento assertivo promove conseqüências tais como: facilitação da solução de problemas interpessoais, elevação do senso de auto- eficácia, maior tranqüilidade e maior qualidade nos relacionamentos afetivos.

Falar de forma assertiva é bom pelas conseqüências positivas que podem surgir, tanto na resolução dos problemas como pela possibilidade de reafirmação do eu e também pelo valor que a sociedade dá a tais comportamentos. Muitas vezes esses valores sociais não se fazem suficientemente claros e fortes para adquirir controle sobre nossa conduta. (CONTE; BRANDÃO, 2003, p.10)

A não observação do ambiente no qual se está interagindo também pode gerar passividade. Agir passivamente pode provocar um círculo de ações que se repetem indefinidamente. O agir passivamente gera feedback negativo, o que acarreta uma atitude de auto-depreciação e, possivelmente, a repetição da passividade.

As verdades que nos levam a crer que temos “bola de cristal” e, portanto, sabemos exatamente “qual era a intenção” da outra pessoa. Imaginamos que sabemos o que o outro quer dizer ou fazer mesmo antes diga ou faça.Isto nos afasta da realidade que está sendo vivida  a cada momento. Pessoas que não observam a realidade em que estão vivendo tornam-se inadequadas: muitas vezes caluniam, acusam, são tolerantes, agressivas e não deixam o outro falar. (CONTE; BRANDÃO, 2003, p.80)

O aprendizado de respostas assertivas pode inibir ou enfraquecer a ansiedade experimentada previamente em interações sociais específicas. Quando a pessoa se torna mais capaz de afirmar ou agir por iniciativa própria, ela reduzirá significativamente sua ansiedade em situações críticas e aumentará seu senso de valor como pessoa.

O grande exercício para quem deseja ser assertivo com as pessoas é compreender, na prática, as contingências reais, comportando-se de forma serena, não passiva diante das situações que são apresentadas e controlando comportamentos impulsivos para não se tornar agressiva, tampouco se fechar em suas verdades e papéis.

A história pessoal dos cônjuges modela a aprendizagem de seus próprios comportamentos. Diante disso, cada um tem o papel de refletir sobre a forma como tem se comunicado com seu parceiro, no intuito de obter maior diálogo, aprimorando suas interações. O casal deve refletir sobre seus comportamentos, levando em consideração a reflexão dos modelos de comunicação aprendidos na história de vida de cada um e as habilidades de comunicação peculiares à individualidade dos cônjuges.

A intervenção do Psicólogo comportamental no relacionamento do casal se faz sob controle dos efeitos clínicos, no que se refere à expressividade emocional dos cônjuges, o que contribui para a minimização dos problemas familiares.

Até o ponto de se fazer uma intervenção, de acordo com Silvares (2000), se faz necessário uma avaliação diagnóstica do comportamento do casal, que ocorre nas várias fases da relação do casal. É necessário identificar as causas do problema, buscando conhecer a natureza do mesmo, ou seja, as contingências atuais e passadas. Depois, é necessário fazer uma análise funcional, investigando os fatores mantenedores da condição problemática do casal. E, por fim, deve ser feita uma avaliação de tratamento, observando mudanças ocorridas, possíveis efeitos benéficos e satisfatórios.

O psicólogo comportamental pode identificar e entender os tipos de contingências de reforço, de regras que governam o comportamento e variáveis envolvidas no relacionamento do casal, que estejam desempenhando o controle dos comportamentos. Portanto essas intervenções podem ser feitas a fim de minimizar e até mesmo extinguir os comportamentos, dentro e fora do contexto da relação do casal, possibilitando novas formas saudáveis de convivência.

 

REFERÊNCIAS

ANTON, Iara L. Camaratta. A Escolha do Cônjuge: Um entendimento Sistêmico e psicodinâmico. Porto Alegre: Artmed, 1998. 300 p.

 

ALBERT,R.E.;EMMONS,M.L, Michael. Comportamento assertivo: Um guia de Auto- Expressão. Trad. Jane Maria Correa. Belo Horizonte: Interlivros, 1978. 147 p.

 

NETO, Simone; TOURINHO, Emmanuel Zagury.Dizer “eu te amo” também é ser assertivo. In: CONTE, Fátima C; BRANDÃO, Maria Z. S. (org.). Falo ou não falo? Expressando sentimentos e comunicando idéias. Arapongas: Editora Mecenas Ltda, 2003, cap.7, p. 61- 83.

 

MALDONADO, M.T. Casamento: término e reconstrução. Petrópolis: Vozes. 223 p.

 

MORAES, Carmem Garcia de Almeida; MURARI, Silvia Cristiane. A intervenção clínica em grupos de crianças filhos de pais separados. In. SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos (org.). Estudo do caso em Psicologia Clínica Comportamental Infantil. Campinas, SP: Papirus, 2000, cap.4, p. 86.

 

SKINNER,B.F. Ciência e Comportamento humano. Tradução de João Claudio Todorov e Rodolfo Azzi. São Paulo: Edart, 1974. 252 p.

 

 

 NOTA DE RODAPÉ


[i] Aluna do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Maxleila Reis.

E1- 30 ASSERTIVIDADE NA RELAÇÃO ENTRE CASAIS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *