Márcia Inácia Dutra[i]
Os padrões de beleza têm oscilado, ao longo das décadas, entre a valorização de ossos ou curvas, costelas saltadas e carnes generosas. Atualmente, artistas, poetas, publicitários e a mídia em geral exaltam a beleza como sinônimo de magreza (SEGATTO, PADILLA e FRUTUOSO 2006).
De acordo com Tommaso (2007), a “auto-imagem é mutável e influenciada por estímulos externos, internos, sentimentos e emoções”. Os ideais de beleza, que são propagados na mídia, baseiam-se em uma forma específica de beleza, baseada nas top models, ou seja, mulheres altas e magras que apresentam estar abaixo do peso ideal. Pesquisas publicadas pela revista Época (2006) indicam que o “peso das modelos atualmente é 23% inferior ao da média da população feminina”.
Muitas mulheres, que se apresentam de forma atraente, mas estão fora dos padrões de beleza apresentados na contemporaneidade, carregam consigo uma sensação de auto-estima e auto-imagem rebaixadas, que faz com que se sintam rejeitadas, desvalorizadas e feias.
Para Tommaso (2007), a auto-imagem, indevidamente formada, faz com que a mulher atue de acordo com a forma pela qual ela se avalia, e essa avaliação errônea produz comportamentos distorcidos, pois a busca indiscriminada por esses padrões de aparência pode prejudicar a qualidade de vida e levar à morte, como ocorre na anorexia nervosa (redução ou perda de apetite, inapetência) e na bulimia (apetite insaciável), que são desencadeadas por agentes biológicos, genéticos, psicológicos e familiares. Porém o principal fator desencadeante desses distúrbios alimentares, atualmente, além da busca indiscriminada pelo corpo ideal, baseado em modelos ditatoriais de beleza, é a distorção da auto-imagem provocada pela lavagem cerebral produzida pela overdose de exposição aos estímulos da mídia.
Tommaso (2007) afirma que os transtornos alimentares constituem um dos problemas de saúde mais graves da atualidade.
Segatto, Padilha e Frutuoso (2006) afirmam que “95 % dos casos de transtornos alimentares ocorrem em mulheres, e cada vez mais vêm sendo verificados estes transtornos em crianças de 8,7 e até 6 anos de idade”.
Em 2004 a Unilever – Dove, através do Stragy One (Instituto de Pesquisa de Nova York), realizou estudo mundial com 3200 mulheres de 10 países, com idades em 18 e 64 anos. Os resultados mostram que apenas 2% se definiram como “belas”, e no Brasil essa porcentagem cai para 1%. Entre as brasileiras, 54% delas fariam cirurgia plástica se pudessem e 7% já haviam feito um número significativamente mais elevado do que nos demais países. Outro dado alarmante é que 12% trocariam 25% de inteligência por 25% de beleza (TOMMASO, 2007. p.55).
Ainda com Tommaso (2007), as pessoas predispostas biológica e psicologicamente a desencadear a anorexia ficam sem comer de propósito para emagrecer e, mesmo estando excessivamente magras, se enxergam como estando muito gordas, devido à alteração patológica da auto-imagem, que altera a percepção do seu corpo. Suas vidas passam a girar em torno de dietas, magreza e forma física, pois praticam exercícios físicos de forma compulsiva e provocam vômitos quando supõem que comeram em excesso.
As conseqüências da má alimentação e dá emissão desses comportamentos exagerados são:
Emagrecimento súbito e afastamento social. A menstruação se altera e com o tempo a mulher desenvolve amenorréia (cessamento da menstruação). O prolongamento desse estado pode gerar esterilidade futura por atrofia de útero. Problemas cardíacos, osteoporose e, segundo alguns autores atrofia cerebral. Ocorre anemia, queda de cabelos, as unhas se tornam quebradiças e cresce um tipo de penugem no corpo chamado lanugo, semelhante aos pêlos que crescem no bebê. 20% das anorexias morrem por suicídio, parada cardíaca ou inanição. A morbidade por depressão pode atingir 75% ou mais, e a vulnerabilidade para outros transtornos psicopatológicos é acentuada (TOMMASO, 2007, p.60).
Já a bulimia faz com que a pessoa coma grande quantidade de comida, de maneira muita rápida e sem mastigar, geralmente às escondidas e acompanhada de falta de controle em relação ao que come e o quanto come. Após ingerir os alimentos descontroladamente, essas pessoas costumam se sentir culpadas, arrependidas e com medo de engordar. Então buscam eliminar as calorias ingeridas por meio de comportamentos compensatórios, como o vômito autoinduzido, exercícios físicos praticados de forma compulsiva, ingestão de laxantes, remédios para emagrecer, hormônios de tireóide e até mesmo drogas ilícitas, no entanto, geralmente, o peso se mantém constantemente acima ou abaixo do normal. Estudos mostram que a bulímica irá procurar tratamento entre cinco e oito anos após o início da doença, quando graves conseqüências podem já ter ocorrido (TOMMASO, 2007).
A área da saúde se debate com o crescimento mundial da obesidade, que se torna uma autêntica pandemia. De maneira alarmante os índices crescem mundialmente. Nos EUA, 64% dos americanos pesam mais do que deviam e no Brasil chegamos a 40%. Estudos prospectivos indicam que, se continuar nessa proporção, no ano 2250 todos os norte americanos serão obesos e a Organização Mundial de Saúde alerta para o fato de a obesidade e seus efeitos matarem mais do que a fome. Por outro lado, a indústria do emagrecimento fatura bilhões de dólares por ano e vêm crescendo de maneira pronunciada. A avidez por cirurgias plásticas, inclusive em adolescentes, cresce assustadoramente. Lipos, silicones e peeling são os sonhos de consumo de muitas meninas. (TOMMASO, 2007,p.57).
Observa-se que essas pessoas têm muita dificuldade para delimitarem seu espaço, para sentirem-se aceitas, precisam colocar a opinião do outro em primeiro lugar. Esse comportamento pode estar associado à sua baixa auto-estima, na medida em que se sente amada somente pela sua utilidade e beleza e não pelo seu valor como pessoa.
Para Tommaso (2007), as mulheres precisam se sentir valorizadas para que mantenham uma relação positiva consigo mesmas. Sem isso, é praticamente impossível cultivar a auto- estima. Isso não só tem a ver com a sua história passada, na qual seu ambiente foi pouco generoso quanto à valorização e bastante farto quanto às criticas negativas, mas também com sua história atual. Além disso, costuma-se criticar a pessoa e não o seu comportamento. Dessa forma, elas podem adquirir uma reação de auto- anulação e auto-rejeição, acreditando que não têm valor, se sentem inferiores e obrigadas a seguir os padrões de beleza impostos pela sociedade. Também se mostram freqüentemente desanimadas e frustradas por não conseguirem corresponder às expectativas que a mídia impõe quanto ao corpo perfeito, por não se controlarem frente à disponibilidade do alimento, por quebrarem as diversas dietas às quais já se submeteram e observarem que o seu corpo não está perfeito como os das top models. Essa situação torna-se extremamente aversiva e passa a ter o status de determinantes do comportamento de comer em excesso ou de deixar de comer. O que pode ser observado com freqüência na vida dessas pessoas é a ausência de outras fontes de prazer, além das questões relacionadas à comida e ao culto ao corpo perfeito.
Assim, com o repertório pobre em termos de atividades reforçadoras, sempre que se sentem entediadas ou com a sensação de vazio, recorrem à comida como uma forma de aliviar esse sentimento, até porque, além do reforço social, que, geralmente acompanha essa ação, existe um prazer mais forte e imediato, que é a sensação gustativa agradável e o alívio imediato.
Logo, o comer torna-se uma resposta que exerce a função de controlar ou afastar situações aversivas e sentimentos negativos.
A observação de que a pessoa anoréxica ou bulímica tem dificuldade em lidar com seus sentimentos e pensamentos é freqüente. Ela não os aceita, não os reconhece em si, não identifica os eventos eliciadores e, portanto não aprende a lidar com eles e a expressá-los de forma adequada.
Tommaso (2007) afirma que há outros transtornos psicopatológicos, que se caracterizam por uma distorção da imagem corporal, baixa auto-estima, ausência de referência interna de beleza e de uma identidade estética que considere os diferenciais de cada indivíduo e não um padrão imposto externamente.
O transtorno Dismórfico Corporal (TDC) pode ser definido como uma espécie de feiúra imaginária ou medo se ser ou ficar feia, estima-se que ocorre em 10% das pessoas que se submetem a algum tipo de cirurgia plástica, atribuindo o problema a um defeito de imagem e não de auto- imagem (TOMMASO, 2007).
A vigorexia, ou Síndrome de Adonis, ocorre preferencialmente em homens e consiste na obsessão por aquisição de musculatura hipertrofiada e forte. A pessoa se exercita excessivamente, a ponto de sofrer lesões físicas, geralmente faz uso de grande quantidade suprimentos nutricionais, anabolizantes hormonais e outros que promovam crescimento de massa muscular. Mede-se constantemente, se avalia diante do espelho e mostra-se cronicamente insatisfeito com seu corpo, que, em sua visão, permanece fraco, mesmo estando em boa forma.
Em todos os casos, é possível verificar acentuada distorção entre o que o espelho reflete e o que a mente elabora. A anoréxica se vê gorda, a portadora de TCD, feia, e o vigoréxico fraco (TOMMASO, 2007).
Para D´Assunção (2002), o tratamento costuma ser conduzido por meio de psicoterapia, reeducação alimentar, uso de medicamentos antidepressivos e internação nos casos mais graves.
O analista do comportamento deve direcionar sua intervenção para trabalhar o autocontrole e a mudança de hábito alimentar, identificando as funçõbito alimentar, identificando as funçhar com autocontrole e mudança de helas pregam.dela.usca o prazer da comida na boca, impees es es que o comer assume para a pessoa, bem como a formação da auto-imagem e a promoção do desenvolvimento da auto-estima. Ele deve analisar, junto com o cliente, seu histórico de vida, suas experiências, os estímulos positivos e negativos, os valores culturais vigentes, incluindo os estéticos, identificando as variáveis ambientais, físicas e sociais, condições emocionais, sentimentais e as relações que existem entre elas.
Criar condições para que o cliente altere as contingências aversivas presentes em seu ambiente, que exercem controle sobre o seu comportamento, para que ele possa modificá-lo por meio do contra controle e aquisição de novos repertórios de comportamentos.
Assim, mais importante do que ser ou estar é sentir-se bonita, pois a única unanimidade em termos de beleza é a presença de auto-estima adequada (TOMMASO, 2007).
REFERÊNCIAS
D` ASSUNÇÃO, Vanise Dalla Vechia; D`ASSUNÇÃO, Marco Aurélio. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: aspectos fisiopatológicos e clínicos. In: GUILHARDI, Hélio José; MADI, Maria Beatriz Barbosa Pinto; QUEIROZ, Patrícia Piazzon; SCON, Maria Carolina (Org). Sobre Comportamento e Cognição: questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. Vol.8. São Paulo: Arbytes Editora, 2002. Cap.34.p.296-308.
SEGATTO, Cristiane; PADILLA, Ivan; FRUTUOSO, Suzane. Por dentro da mente de uma anoréxica. Revista Época, São Paulo, n. 444, p.93-99, nov.2006.
TOMMASO, Marco Antonio de. Beleza ideal. Revista Psique Ciência e Vida. São Paulo, n.7, p. 54-61, jul. 2007.
NOTA DE RODAPÉ
[i] Aluna do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Maria Regina.